Conheça os riscos de uma gestação tardia tanto para as mulheres, como para as crianças
Se antes o destino das mulheres era casar ainda na juventude e ter filhos logo após o matrimônio, para os quais dividia seu tempo com os cuidados da casa e do marido, hoje o cenário é bem diferente. As mudanças dos padrões familiares com inserção feminina no mercado de trabalho, maior grau de escolaridade, priorização do crescimento profissional e conhecimento sobre métodos contraceptivos e de fertilização que possibilitam escolher quando será mãe, são os principais motivos que nos fazem ver cada vez mais mulheres adiando a gestação.
A empresária Fátima Rodrigues, 39, orgulha-se de ter esperado a maturidade para então tornar-se mãe. Casada com o médico Sérgio Moraes, 38, eles optaram por estabilizar financeiramente a vida antes de terem o primeiro filho que só chegou aos 34 anos de Fátima. “No começo do casamento, nossa prioridade era curtir a nova fase da vida e focar na carreira profissional, por isso a gravidez foi adiada”, conta. Na época, a futura mãe realizou diversos exames que apontaram que ela estava com uma boa saúde e com todas as condições para engravidar.
Hoje com dois filhos, Pedro Arthur, cinco anos, e Lucas Henrique, quatro meses, Fátima conta que suas gestações foram tranquilas e como em qualquer gravidez, ela seguiu uma dieta saudável aliada à prática de exercícios. “Consegui planejar o nascimento dos bebês, ambos nasceram de cesárea, por opção minha e de meu esposo. Chegaram na hora e no dia marcado com uma excelente saúde”, ressalta a empresária que nunca se arrependeu da decisão.
“Adiar a maternidade só fez com que eu estivesse mais preparada para ser mãe. Sabia dos riscos, mas com acompanhamento médico a gestação tardia pode ser sim, muito bem-sucedida”, observa Fátima.
LINDA conversou com a ginecologista e obstetra Leila Spanemberg, 35, sendo oito de profissão, para esclarecer dúvidas sobre a gravidez tardia.
Fátima: “Ter adiado a gestação do Pedro Arthur e do Lucas Henrique só fez com que eu estivesse mais preparada para a chegada deles”
Idade ideal para ter filhos
De acordo com Leila, a faixa etária ideal do ponto de vista biológico é dos 20 aos 30 anos. “Quanto mais se afasta dessa fase, para mais ou para menos, maiores são os riscos. Por isso, é bom ter bastante esclarecimento antes de optar por engravidar”, observa.
Idade de maior risco para engravidar
As gestações nos extremos reprodutivos, ou seja, idade inferior a 18 anos ou acima de 35 anos são consideradas de risco. “As gestações com idade materna acima dos 35 anos podem evoluir com complicações tanto para a mãe como para o bebê”, ressalta Leila.
Riscos de uma gravidez tardia
Para a ginecologista, entre os riscos está o maior número de abortos espontâneos podendo chegar acima de 35% em mulheres com mais de 40 anos. O baixo peso ao nascer também pode contribuir para aumento da mortalidade neonatal. “O risco de anomalias congênitas aumenta devido a alterações cromossômicas que ocorrem com o envelhecimento dos óvulos, como por exemplo, a síndrome de Down. A porcentagem de alterações cromossômicas em mulheres com 20 anos é de 0,2%, com 35 anos é de 1,29%, chegando a 10% em mulheres acima de 46 anos”, explica Leila.
Vantagens de ser mãe mais tarde
Com a idade um pouco mais avançada, as mulheres ficam mais preparadas e com uma vida mais estável para ter um bebê. “A idade também traz mais serenidade, paciência e maturidade para educar os filhos. Do ponto de vista negativo está a disposição, já diminuída com o passar dos anos”, completa Leila.
Cuidados na idade de risco
“Nos casos em que há desejo de engravidar após os 35 anos, a paciente deve ser avaliada cuidadosamente do ponto de vista clínico e ginecológico antes da concepção para a avaliação do risco gestacional”, observa a ginecologista. A assistência pré-natal também deve ser frequente e mais precoce possível. Orientação dietética adequada com acompanhamento de um nutricionista é importante, com suplementação de ácido fólico para prevenção de defeitos no tubo neural. “E mais recentemente, tem importância o acompanhamento genético pré-concepcional, ou seja, estudo genético capaz de prever se a combinação do óvulo da mãe com o espermatozóide do pai poderá gerar um filho com algum problema de saúde”, completa Leila.
Obstáculos para gestação tardia
Com o aumento da idade, ocorre um declínio da fecundidade devido à diminuição dos ciclos ovulatórios, ao envelhecimento e qualidade do óvulo. “Além disso, existe o aparecimento de doenças ginecológicas que diminuem a fertilidade como, endometriose, cistos ovarianos e miomas uterinos”, observa Leila. Alternativas reprodutivas como indução da ovulação, fertilização in vitro e ainda ovodoação, que é a técnica na qual o óvulo é de uma doadora jovem, são boas opções quando aparecem as dificuldades para engravidar. Outro método que pode ser utilizado é a criopreservação de tecido ovariano, uma técnica utilizada para manter a função reprodutiva em pacientes que necessitam retardar a gestação. Ela consiste na retirada de fragmentos do ovário que são congelados em nitrogênio líquido.
Gravidez sadia e tranquila na maturidade
“É possível, sim, ter uma gestação tardia sadia e tranquila”, afirma Leila. O ideal quando se decide mãe mais tarde é engravidar no máximo até os 40 anos, sempre aliado a um bom acompanhamento pré-natal e cuidados com o peso e alimentação.