Pílula da independência
Anticoncepcional completa 50 anos, mas ainda gera dúvidas entre as mulheres
Estopim da revolução silenciosa iniciada pelas mulheres na década de 1960, quando passaram a controlar sua fertilidade e conquistaram a liberdade sexual com segurança, a pílula está completando 50 anos. Embora seja utilizado por 80 milhões de mulheres no mundo, segundo estudo do Instituto Guttmacher - a organização de saúde sexual dos Estados Unidos -, o contraceptivo ainda é cercado de mitos que acabam gerando dúvidas nas usuárias. Mas segue evoluindo e já derrubou a barreira que, 20 anos atrás, impedia que fosse um assunto tratado abertamente em família ou deixava constrangidas as jovens que fossem a uma farmácia comprar pílula.
“Não faz muito tempo que era comum ouvir relatos de pacientes que sentiam vergonha de irem a uma farmácia comprar anticoncepcional. Também passei por isso. Era horrível”, conta a ginecologista Rosele Salzano, que comemora a popularização da pílula. O fato de não ser receitada apenas como método de barreira contra a gravidez acabou ajudando. Hoje o anticoncepcional oral serve também para tratamentos hormonais, regular o ciclo menstrual e até como parte do tratamento contra a acne. “Felizmente não é mais um assunto proibido ou tão discreto”.
Os mitos e as dúvidas, no entanto, ainda persistem para muita gente. “É normal que isso aconteça. O que a mulher precisa fazer é procurar um especialista para não cometer erros que podem trazer consequências indesejadas”, adverte a ginecologista, citando como exemplo o fato de muita mulher iniciar o uso da pílula sem acompanhamento médico. “Hoje existe uma série de anticoncepcionais no mercado. É impossível escolher um, aleatoriamente, e sair usando. Pode dar errado”, garante, explicando que há fórmulas indicadas para cada tipo de usuária.
. Efeitos colaterais
Apesar do avanço dos laboratórios nos últimos anos, a pílula anticoncepcional pode sim causar efeitos colaterais como náusea, dor de cabeça, de estômago e nas pernas. Nesse caso o recomendado é procurar o médico. Ele decidirá se receita outra pílula ou parte para métodos contraceptivos não orais. A retenção de líquidos e o ganho de um a dois quilos também é normal.
. Consumo regular
É preciso seguir exatamente as instruções que constam na cartela, que podem variar de acordo com a fórmula da pílula. Tomar corretamente todos os comprimidos é fundamental. Quando esquecer por um dia que seja ou vomitar em até meia hora após ter tomado a pílula, por exemplo, a mulher precisa ficar atenta até que o ciclo se complete.
. Tempo de uso
Desde que não haja efeitos colaterais, a mesma marca de anticoncepcional pode ser usada durante anos. Não é preciso variar de tempos em tempos. A pausa por alguns meses ainda ocorre, mas não é recomendada pelos médicos justamente porque a mulher pode engravidar nesse período.
. Primeiro mês
Quando inicia o uso da pílula ou quando passa a utilizar uma com fórmula diferente, a mulher não pode abrir mão de outro contraceptivo, como a camisinha, pelo menos no primeiro mês. É porque o organismo ainda está se adaptando e a eficácia pode não ser 100%.
. Mulheres fumantes
Mulheres com mais de 35 anos que fumam devem optar pelas pílulas só de progesterona. As combinadas, que contêm estrogênio e progesterona, são contraindicadas porque podem aumentar o risco de trombose e embolia pulmonar.
. Pós-parto
Há pílulas especiais para as mulheres que estão amamentando e temem engravidar novamente. São as chamadas minipílulas, que não passam os princípios ativos do remédio para o leite. No entanto elas não controlam o ciclo menstrual e o indicado é que não sejam utilizadas por muito tempo.
Cinquentona, a pílula é um método anticoncepcional totalmente seguro, garante a ginecologista Rosele Salzano. Mas para isso, alerta, precisa ser administrada corretamente. A cachoeirense Paula Machado Corrêa Ferreira, de 29 anos, que o diga: ela engravidou duas vezes embora tomasse o anticoncepcional. Como? Deixou um ou dois comprimidos para trás em um determinado mês e, no seguinte, descobriu que seria mãe. “É um exemplo de que uma só pílula que não for consumida pode comprometer a eficácia do anticoncepcional. É preciso ficar muito atento a isso”, salienta a médica.
Mesmo assim, Paula considera a pílula um método contraceptivo seguro. “A questão não foi a pílula. Eu que não tomava como devia”, relembra. Ela tinha 17 anos e namorava quando ficou grávida de Gabriel. Aos 24, já casada e sem planos de aumentar a família, a situação se repetiu. “Fomos viajar e acabei esquecendo de levar o remédio. Deixei aquelas duas pílulas para trás e segui tomando até acabar a cartela. Mas fiquei grávida e veio a Carolina”, diz. Paula costumava tomar o anticoncepcional sempre à noite, quando escovava os dentes para dormir.
Mas os frequentes esquecimentos e as duas gestações que vieram como consequência levaram a especialista em gestão de pessoas a procurar sua médica para substituir o método contraceptivo. Atualmente Paula utiliza o anel vaginal, que também é seguro e não precisa ser lembrado diariamente. “Cheguei a experimentar também a injeção, mas não gostei muito. Hoje só anoto na agenda o dia que precisa trocar o anel e pronto. É mais simples”, sentencia.
. A primeira pílula, lançada dos Estados Unidos, tinha altas doses de hormônio. Efeitos colaterais por vezes severos acabaram fazendo com que o produto não conquistasse a confiança das usuárias.
. Na época o cenário mundial pregava uma conduta moral de castidade feminina, tanto que o método era receitado apenas para as mulheres casadas que tinham autorização dos maridos.
. Em 1961 é lançada a pílula Anovlar, primeira disponibilizada em países da Europa, Austrália e no Brasil. A formulação era seis vezes maior que a quantidade de princípio ativo dos contraceptivos atuais.
. No auge dos anos 70 surge a pílula da segunda geração, diferenciada da primeira pela redução significativa da quantidade de hormônios.
. A terceira geração sai no final dos anos 90, quando é lançada a pílula com formulação de baixas doses e princípios ativos mais modernos, que proporcionaram outros benefícios além da contracepção.
Anel vaginal
Contém etonogestrel e etinilestradiol, que são os mesmos hormônios da maioria das pílulas. É colocado na vagina no quinto dia da menstruação, sendo utilizado durante três semanas. As vantagens são a conveniência, já que não precisa ser diariamente, e que não provoca os possíveis efeitos colaterais do anticoncepcional convencional.
Adesivo anticoncepcional
Também contém os mesmos hormônios da maioria das pílulas e evita os efeitos colaterais desagradáveis. Deve ser colado na pele e permanecer por uma semana. Pode ser aplicado no braço ou nas costas. O adesivo deve ser colocado no primeiro dia da menstruação.
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