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Do amor ao sexo Edição 122 - março de 2018

O tabu da sexualidade acabou

» Izabel Eilert (izabeleilert@terra.com.br)/psicóloga e terapeuta sexual


Hoje em dia, parece que o que era tabu em relação à sexualidade há mais de 50 anos já não tem o menor significado, como, por exemplo, meninas serem recatadas, meninos terem que sempre ter a iniciativa, meninas serem virgens até o casamento, meninas só experimentarem sexualmente meninos e vice-versa e a sexualidade ser quase uma moeda de troca… Atualmente nada mais disso tem, nem de perto, o mesmo valor que tinha há meio século.

A sexualidade hoje é vista de uma maneira muito menos complicada, em que as pessoas se sentem de alguma forma autorizadas a vivê-la e sentir como quiserem, no momento que quiserem e com quem quiserem. As mulheres podem ter muito mais iniciativa e os homens, por sua vez, se sentem em alguns momentos até assustados, parecendo que este papel masculino, que antes era tão claro de dominação, atualmente passe a ser muito mais flexível, vulnerável, levando a crer ainda estar se redefinindo. A mulher parece estar tendo muito mais liberdade de exercer a sua sexualidade em comparação ao homem.

A iniciação sexual talvez seja a maior prova de queda de tabus dos últimos tempos na nossa sociedade. Adolescentes estão iniciando a vida sexual na faixa entre os 13 e 17 anos de idade. Talvez nossos avós tivessem a iniciação sexual até antes disso, mas o que difere a questão da iniciação é o motivo. Na época dos nossos avós, essa iniciação se dava para o matrimônio, para uma vida considerada adulta, para o casamento, a maternidade e uma vida quase de servidão sexual ao marido. Já hoje o motivo dessa iniciação sexual é o prazer.

Nota-se também uma transformação na própria postura dos jovens hoje em dia. Se observarmos nas redes sociais, nas novelas, que retratam muito o perfil da sociedade, na conduta dos jovens nas escolas e nos relacionamentos sociais, podemos notar claramente o quanto se sentem livres para exercer sua sexualidade, seu erotismo, seus desejos íntimos de uma maneira muito mais à vontade, mais liberta e sem culpa.

Também podemos ver mudanças na própria cultura popular – as músicas passaram a ser extremamente eróticas, provocativas e sensuais e na dança há toda uma demonstração através da postura corporal de uma insinuação do erótico. Os jovens entendem isso como algo natural e vivenciam a sexualidade de uma forma muito mais tranquila já que não tiveram no seu significado todos os antigos tabus da repressão ao prazer, o que parece ser uma transformação muito interessante do modelo social em relação aos tabus que dizem respeito à sexualidade humana já que ela não precisa mais ter um “peso de moeda” ou de valor do ser humano.

Isto assusta algumas pessoas, principalmente aquelas que ainda se veem atreladas àquele modelo anterior ou que fizeram parte das gerações anteriores, com aquele formato de rigidez. Para estas, lógico que este modelo atual pode parecer muitas vezes quase assustador, já que foram educadas de forma diversa, num ambiente moral muito mais rígido, em famílias com formatos muito diferentes dos atuais, onde a sexualidade era considerada um assunto misterioso e privativo das conversas dos adultos. Era como se o erotismo e a sexualidade fossem algo que parece uma afronta à sociedade. Claro que se entende que quando esses padrões sociais se modificam, eles naturalmente vão chocar até que possam ser adaptados e absorvidos pela sociedade, passando a uma normalidade, uma forma mais habitual de ser vista e vivida.

A sexualidade, a meu ver, passou a ser algo que pode ser vivido, sentido e experimentado como pertencendo apenas ao ser humano e não mais a mutáveis valores sociais e morais. Um prazer que todos podem e têm direito de usufruir e vivenciar.


Psicóloga e terapeuta sexual
 






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