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Entrevista EDIÇÃO 34 - MARÇO 2010

Negro sim, e com orgulho


O negro Sérgio Augusto Ramos dos Santos Júnior, 37 anos, está conseguindo driblar os preconceitos da sociedade com sua cor de pele e classe social graças ao sistema de cotas em universidades e concursos públicos. Desde o início do ano passado ele é servidor concursado da Prefeitura, garantindo sua vaga de auxiliar administrativo na cota para afrodescendentes, e cursa Administração na Ulbra/Cachoeira com bolsa de estudos viabilizada pelo ProUni, o programa que garante acesso ao ensino superior para brasileiros de baixa renda. Militante das entidades de valorização dos negros, no ano passado Santos Júnior representou Cachoeira do Sul na segunda edição da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Social, ocorrida em São Paulo.


“Quando alguma empresa coloca anúncio em jornal solicitando funcionário e pede que ele tenha boa aparência, a gente nem precisa mandar currículo, pois este requisito deixa claro que eles não querem negro naquela função”.


Os negros de Cachoeira do Sul são unidos?
“Não. Somos milhares de afrodescendentes na cidade mas poucos trabalham em defesa da nossa valorização e da igualdade racial. Em outras cidades a união dos afros é de nos dar inveja, isto sem falar em estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Aqui em Cachoeira são no máximo 100 negros que participam ativamente de reuniões e outras atividades de nossas associações. É mais fácil ficar esperando e só ser beneficiado com o resultado depois”.

Isto te deixa desmotivado?
“Nunca pensei em desistir do meu trabalho em favor da raça, mas sinto falta de uma grande mobilização. Lamentavelmente ainda tem negro que sente vergonha da nossa cor e que tenta esconder que se beneficia, por exemplo, do sistema de cotas em concursos públicos”.

Há alguma fórmula para dominar o preconceito racial?
“Sim, a educação. Só quando todos conhecerem a nossa história e a importância dos negros em todos os aspectos é que conseguiremos dominar o preconceito. Antes disto, seguiremos sendo chamados de negro sujo, macaco, escravo...”.

Mas há uma lei que determina a inserção da história dos negros em sala de aula...
“Esta lei entrou em vigor em 2003, mas sua aplicação não é fiscalizada. A grande maioria das escolas só oferece uma que outra atividade sobre o tema por ano, geralmente uma palestra. Para que a Lei 10.639 seja realmente cumprida é necessário fazer com que os estudantes necessitem conhecer a história dos negros. E para isto, é só colocar questões sobre o assunto em vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Esta foi a principal ideia que eu defendi na Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Social”.

E o mercado de trabalho para os negros, como está?
“O preconceito afeta bastante na hora de conseguirmos um emprego. Por mais qualificação que tenhamos, geralmente ficamos de fora das seleções por causa da nossa cor. Quando alguma empresa coloca anúncio em jornal solicitando funcionário e pede que ele tenha boa aparência, a gente nem precisa mandar currículo, pois este requisito deixa claro que eles não querem negro naquela função”.

Você já foi alvo de preconceito em seleções de emprego?
“Várias vezes. Eu morei um tempo em Porto Alegre e lá o preconceito é bem menor. Na capital, eu já fui até gerente de uma grande rede de restaurantes, mas quando retornei para Cachoeira fiquei mais de dois anos desempregado. A justificativa dos empresários era sempre a mesma na hora de me dizer não: ‘Você é muito qualificado para o cargo’. Ora, como que uma empresa não vai querer um funcionário capacitado. Que desculpa mais esfarrapada”.






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