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Entrevista EDIÇÃO 29 - SETEMBRO 2009

No palco da sala de aula


Com 40 anos de profissão, a educadora Magda Scotta Hentschke, 59 anos, pode ser considerada uma artista, responsável não só por ensinar sua disciplina, a Língua Portuguesa, como por educar para a vida as centenas de adolescentes que passaram por suas salas de aula. “Considero a sala de aula como um palco, só que diferente do teatro, a peça da escola nunca termina como o planejado, isso graças à curiosidade do aluno que sempre pode mudar os rumos dos ensinamentos”, observa.
Casada com o admistrador Gilmar Valter, 59, ela se orgulha de seus dois filhos terem seguido seus passos: o Guilherme, 26, em preparação para cursar doutorado em Biologia, e o Vítor, 24, terminando mestrado em Fisioterapia. Mesmo aposentada no papel, Magda segue trabalhando no Colégio Barão do Rio Branco e na Escola Profissional de Saúde. Parar de dar aula não lhe passa pela cabeça, mas diminuir a carga horária sim, a partir do próximo ano.


 

Magda:  amor pela educação apesar de todas as dificuldades que a profissão impõe



Por que escolheu a profissão de educadora?
Desde pequena eu sonhava com isso. Minha mãe relata que na infância eu já brincava de ser professora. Acredito que a sede por conhecimento tenha feito eu buscar essa profissão, que mesmo tendo diversos obstáculos, sempre me encantou. Não me imagino fazendo outra coisa. Guardo o mesmo entusiasmo que tinha há 40 anos, portanto, se pudesse voltar o tempo, seria novamente professora.


Como vê as mudanças ao longo desses 40 anos dedicados à educação?
Com certeza acompanhei muitas mudanças tecnológicas, do mimeógrafo ao xerox, mas quando questionada sobre a mudança no comportamento dos alunos, noto que não foram tão drásticas como é noticiado na imprensa e dito por muitos educadores. O aluno não mudou, ele segue querendo um professor que seja justo, firme e que tenha conhecimento. Com certeza, o que mudou foi o comportamento deles.


Como foi essa mudança de comportamento?
Muitas regras de convivência foram deixadas de lado: com licença, por favor e obrigado são palavras esquecidas por muitos. Já alunos indisciplinados, que desrespeitam professores e que não estudam sempre existiram, com a diferença que hoje há agressões morais e até físicas, um comportamento que nunca se justifica, seja da parte do aluno, como da parte do professor. Resumindo: é preciso que muitos voltem a ter consciência que a sala de aula é um lugar formal e não informal como vem sendo encarado.


O professor tem também o papel de educar e não só ensinar sua matéria?
Com certeza. Sempre digo que sou educadora e não professora, já que há uma grande diferença nos dois papéis. O professor ensina a matéria dele e pronto, o educador busca corrigir também falhas em outras áreas, como a convivência.


A forma de dar aula segue a mesma de quando a senhora começou a lecionar?
Não, longe disso. Antigamente os alunos aceitavam o que o educador dizia sem nenhuma contestação. Hoje é preciso muita negociação. Os alunos são mais livres para exporem suas opiniões e o professor precisa estar aberto a isso.


Conte-nos um fato marcante na sua carreira.
No primeiro ano do magistério, durante uma aula fiz uma afirmação sobre certa doença e uma aluna levou a informação para casa. No outro dia, ela chegou com um bilhete escrito por sua mãe contestando o que eu havia ensinado. Naquele momento percebi que para ser uma boa professora, precisaria estar sempre me atualizando não somente na minha área, mas de forma geral. Um professor precisa saber sobre o que o aluno está falando. Quando a informática se tornou popular, por exemplo, senti a necessidade de aprender. Em 1994 fiz um curso e sigo buscando atualizações nessa área tão valorizada pelos alunos.


Então foram necessárias muitas adaptações ao longo do tempo?
Cada tempo tem seu aluno e seu professor. Cada geração tem uma necessidade e é preciso estar atento a isso. Geração mais informada que a dos jovens de hoje nunca existiu, então o bom professor precisa reconhecer suas necessidades de aprendizado.


Como é acompanhar a vida de tantos jovens?
Já fui professora de diversas gerações. Professora das minhas irmãs, filhos e sobrinhos, mas nunca confundi os papéis, em sala de aula sempre fui a educadora. Claro que muitos laços de amizades são criados. Já acompanhei muitas vidas e aprendi muito com eles. Há alguns anos acompanhei o início de um namoro, inclusive levava os bilhetes de um colégio para o outro. O casal noivou, casou, fui madrinha do casamento, tiveram um filho e se separaram. Presenciei todo o ciclo e o mais curioso é que o filho veio a ser meu aluno.


O que é mais difícil em ser educadora?
A dedicação quase integral que a profissão exige e nem sempre tendo uma remuneração correspondente. Além das horas de sala de aula é preciso tempo em casa para corrigir provas, preparar aulas e buscar a atualização. Sempre tive muito apoio em casa para conseguir conciliar trabalho e família, minhas duas paixões na vida.


Qual a grande lição desses 40 anos?
O bom professor aprende muito mais do que ensina.



 

 

“O professor ensina a matéria dele e pronto, o educador busca corrigir também falhas em outras áreas, como a convivência”

 

 






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