Não precisa ter medo
Mulher, 36 anos, bem-sucedida, bonita, inteligente e... delegada. A profissão já intimida quem se aproxima dela, mas para Márcia Bernini ocupar o cargo é mais do que ter uma ocupação, é ter realizado o sonho da sua vida. Há quatro anos ela mostra que é possível conviver em um ambiente em que a maioria são homens e lutar contra o crime sem perder a sensibilidade e também sua feminilidade. Márcia atua na 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeira do Sul. Nesta entrevista à LINDA, ela conta sua rotina de trabalho e os segredos da conduta como delegada.
Márcia: os dramas que encontra na profissão a fizeram ficar mais forte
"Muita gente que vem para falar comigo quando chega diz: pensei que fosse encontrar um homem, nunca imaginei que seria uma mulher."
Como foi sua trajetória profissional?
Sou natural do Paraná e quando abriu concurso para delegados no Rio Grande do Sul não pensei duas vezes, me inscrevi e consegui aprovação. Ser delegada era um sonho, lutei muito para chegar onde estou, não foi somente uma oportunidade que apareceu em minha vida. Já atuei em Santana do Livramento e há três anos estou em Cachoeira. Foi uma conquista, mas a saudade aperta, já que toda minha família segue morando longe. Encontrei aqui uma cidade muito boa, não tenho planos de pedir transferência tão cedo.
Qual sua postura como mulher em uma profissão em que quase todos são homens?
É a mesma que se todas fossem mulheres. Acredito que a mulher na polícia só veio para acrescentar, já que temos mais sensibilidade para lidar com bandidos e também para convencer testemunhas a falarem. Hoje já somos muitas, conseguimos garantir o espaço da mulher, não só na polícia, mas em muitas profissões que antes eram ocupadas praticamente só por homens.
Você fala da sensibilidade feminina, como é separar os dramas que acompanha na profissão de sua vida pessoal?
No início era mais difícil, ficava durante dias remoendo histórias que acompanhava na delegacia, mas depois vi que precisava aprender a separar para poder manter minha saúde e viver em paz. Hoje, digo que é preciso ter um botãozinho que desligue da função de delegada quando termina meu expediente, mas claro que é impossível se manter completamente isenta. Até porque é preciso envolvimento para poder lidar com os casos e isso vale tanto para homens, como mulheres.
E como fica a questão do respeito?
Sempre fui muito respeitada, nunca passei por nenhuma saia-justa, mas já passei por situações muito engraçadas. Muitas vezes em um grupo de policiais que não me conhece conversam normalmente e quando ficam sabendo que sou delegada muda tudo, ficam mais fechados. Muita gente que vem para falar comigo quando chega diz: pensei que fosse encontrar um homem, nunca imaginei que seria uma mulher. Ainda existe essa imagem, mas acredito que daqui a alguns anos todos estarão acostumados com as mulheres nas mais variadas profissões.
Sua conduta é diferente por ser mulher ou você mete a cara e encara os desafios?
Aqui somos como uma família, nosso trabalho é feito em equipe. Nunca fiquei receosa ou com medo. Se tem que entrar em beco ou enfrentar bandido vou e faço. Claro que acabo perdendo muitas vezes no porte físico para os homens, mas dá para contornar. Já tive que conter assaltante e correr atrás de preso, mas nunca me intimidei, afinal estou aqui para essas coisas também.
Você não tem uma vida social muito ativa. Isso vem da sua personalidade ou pela profissão que não permite?
Como moro há pouco tempo em Cachoeira ainda não conheço muitas pessoas e por isso não participo muito de eventos, mas isso nada tem a ver com a profissão. Ser delegada nunca me impediu de fazer nada. Quanto a relacionamentos, a minha profissão acaba assustando mesmo os homens. Tenho namorado, mas antes disso via com clareza como ficavam intimidados quando descobriam minha profissão.
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