Jane Corrêa Barbosa
Uma gravidez que tinha tudo para ser tranqüila e ter um desfecho feliz acabou se tornando um drama na vida de Jane Corrêa Barbosa, 24. Jane agüentou na coragem o início de uma cesária para poder salvar a vida da filha que tanto planejou. O procedimento sem anestesia aconteceu no último dia 17 de julho e dividiu opiniões. A atitude ousada adotada pelo médico André Moreira foi motivada pelos fracos batimentos cardíacos do bebê ainda no ventre da mãe, uma tentativa de salvar a vida da criança. Acompanhada pelo marido Jonas Silva Prestes, 22, Jane não hesitou na decisão de esperar para receber uma anestesia ou correr o risco e salvar a filha. A força da mãe foi mais forte e trouxe ao mundo a pequena Giovana Barbosa Prestes com saúde plena, gerando polêmica sobre os riscos de vida de mãe e filha e a falta de infra-estrutura por parte do sistema de saúde. Apoiada pela família, principalmente pelo marido, agora ela deseja apenas recuperar-se da dolorosa cirurgia e se dedicar por inteiro à filha.
Jane: amor pela filha deu coragem para suportar a dor
"Não estou pensando sobre o que aconteceu ou sobre o que pode vir acontecer. O importante é que a Giovana está ao nosso lado, perfeita e cheia de saúde."
Como você chegou a decisão de fazer a cirurgia sem a anestesia?
Cheguei ao hospital por volta das 13h do dia 17 de julho e durante a tarde foi constatado pelo médico que o bebê estava com os batimentos cardíacos muito fracos e que o cordão umbilical estava enrolado em seu pescoço. Então o ginecologista optou pela cesária e chamou o anestesista, que iniciava outra cirurgia no mesmo momento. O anestesista Ênio Almeida disse que não faria a indução porque não poderia abandonar seus procedimentos médicos naquele momento. Foi então que o meu obstetra alertou sobre o risco de esperar mais tempo pelo parto e orientou uma cirurgia às pressas. Decidi junto ao meu marido que eu faria o parto naquele momento.
A que você atribui o fato de ter encarado a dor de uma cirurgia sem anestesia? Você lembra do que aconteceu enquanto durou a intervenção?
Eu só pensava que precisava salvar a Giovana. Meu marido disse ao doutor que entregaria minha vida e de minha filha nas mãos deles e de Deus. Não pensei em mais nada naquela hora. Apenas sentia muita dor, principalmente no primeiro corte. Eu gritava e me mexia muito, tanto que as enfermeiras amarraram minhas pernas e me seguraram o tempo todo. Lembro que todos em minha volta estavam apavorados, tanto que algumas dessas profissionais choravam e gritavam junto comigo. Ninguém acreditava no que estava acontecendo. Também recordo que enxerguei a Giovana e logo desmaiei e só acordei horas depois. Hoje estou bem pela minha força do pensamento e o amor pela minha vida.
Você acredita que não existia alternativa naquele momento?
Não. Eu e o Jonas sabemos que o médico fez o que pôde para salvar as nossas vidas e graças a Deus conseguiu. Meu marido diz que sou uma heroína por ter tido coragem de enfrentar tudo isso e que o segundo herói foi o Dr. André.
Em algum momento se arrependeu de ter concordado com a decisão médica? Valeu a pena passar por todo esse sofrimento?
De maneira alguma, estou certa de que foi a decisão mais certa diante dos fatos. Mas não sei se faria de novo, porque a dor é muito grande, ainda não acredito que tenha vencido essa etapa. Jamais imaginei passar por tal situação e não desejo essa dor a ninguém.
E agora, o que pensar daqui pra frente? Que lição de vida você acredita ter aprendido com tudo isso?
Agradecemos a Deus pela graça recebida e o apoio da minha família. Ainda estou me recuperando e quero me dedicar a educar e dar carinho a Giovana da melhor forma possível. Se houve algum procedimento incorreto ou algo do tipo, a justiça dirá. Queremos fazê-la valer se for para o bem de outras pessoas, pensando na saúde e segurança de outras crianças que virão por aí. Não sinto revolta, não estou pensando nisso agora. Quero me recuperar 100% e dar muito amor a minha filha ao lado do Jonas. Só não sei ainda se terei outro filho.
EDIÇÃO IMPRESSA
BUSCADOR