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Entrevista Edição 82 - julho de 2014

Por um parto NORMAL


Sempre que pensava em engravidar, a fotógrafa e psicóloga Joice Bernardi Zachazeski queria ver seu filho nascer de parto normal. Aos 29 anos, ela realizou seu desejo e há oito meses deu à luz ao pequeno Inácio, fruto do seu casamento com o médico veterinário Sandoval Zachazeski Júnior, 30. “Sentir as dores do parto era dar início ao meu papel de mãe, e foi assim que aconteceu”, observa Joice, que divide com a LINDA como foi a chegada do pequeno Inácio.

 

 

 

 

Família: Joice e Sandoval com o pequeno Inácio

 

 





Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Ministério da Saúde, apontou que 88% dos partos realizados na rede privada de saúde são cesarianas. O que te levou a escolher o parto normal?

A dor do parto nunca me causou medo, e sim curiosidade. Queria sentir o meu bebê nascer e jamais imaginei alguém fazendo isto por mim. As dores do parto, quando interpretadas, são passageiras e suportáveis, diferente de sofrer as possíveis dores continuadas e os riscos de uma cirurgia abdominal. Cesarianas não diminuem as dores, apenas as deslocam para depois do nascimento, pela recuperação de uma cirurgia com todos os seus percalços. Além disso, optar por uma cesariana seria apostar na sorte. Já escolher o parto normal foi apostar em mim mesma.


Se arrependeu em algum momento, por exemplo, na hora das dores mais fortes?

Quando senti a primeira contração mais forte, lembro de abraçar o meu marido e falar: “Eu não vou aguentar”. Mas como nosso corpo é muito sábio, a partir dali fui descobrindo minha forma de interagir com as contrações, tornando elas muito suportáveis. Cada mulher reage de um jeito, eu sabia que aquela era uma dor finita e que tinha um propósito muito maior por trás dela. Estava tão concentrada e preparada que não me lembrei da existência de cesariana ou analgesia.


Teu trabalho de parto durou quantas horas?

A fase ativa do parto (contrações mais fortes e ritmadas) começou às 21h e o meu filho nasceu as 6h37min, ou seja, foram nove horas e 30 minutos.


Teu marido esteve presente durante todo o trabalho de parto. Qual a importância desse apoio?

Ele esteve presente em toda preparação para o dia do nascimento do nosso filho – estava ao meu lado nos documentários que vimos, nos livros que lemos, nas consultas e nas noites sem sono imaginando como seria o grande dia. Não escolhi sozinha a forma como nosso bebê viria ao mundo. Tudo foi discutido e planejado juntos. Queria que ele me ajudasse durante as contrações me lembrando da minha força caso eu pensasse em desistir. Já no dia do parto, a presença dele foi fundamental. Fiquei a maior parte do tempo do meu trabalho de parto em casa, fomos para o hospital somente quando estava com contrações super-regulares, isso às 3h. Antes de irmos para o hospital, nos abraçamos forte e choramos juntos. Tudo estava acontecendo como havíamos planejado.


Você encontrou alguma resistência da equipe médica ou comentários de familiares e amigos contrários à tua escolha?

O parto normal se tornou uma escolha anormal. Quando me perguntavam o dia que nasceria o meu filho e eu respondia que ele que iria decidir, lembro que me perguntavam se eu iria tentar parto normal. Sentia que era algo que as mulheres viam que não estava mais ao nosso alcance e admito que por muitas vezes até eu me questionei. Nós nos apropriamos da nossa decisão, mas sem abrir muito para as pessoas. Este é um assunto cheio de fantasias no senso comum baseadas no medo e no desconhecimento e, como estávamos bem embasados com informações, não queríamos discutir o assunto com quem não iria entender nossa escolha.


Depois de passado tudo, qual sua opinião sobre o parto normal?

Só confirmei tudo o que acreditava e defendia. Nós, mulheres, nascemos para gerar nosso filho e parir ele. É a natureza agindo. Defendo muito que uma mulher que buscar informação será capaz, sim, de vivenciar o parto e fazer dele uma lembrança linda e, sim, prazerosa.


Como alguém que viveu a experiência do parto normal, o que você pode dizer para quem está grávida e tem dúvidas?

O direito de escolher como quer dar à luz é da mulher. Mas esse direito fica seriamente comprometido quando a informação que ela recebe se baseia em experiências negativas e distorcidas. Para poder escolher, é preciso primeiro dispor de informação de qualidade. Depois de vivenciar o parto normal, digo que foi a experiência mais rica e linda que eu já vivi. Porém, acredito que é fundamental para a mulher que quer o parto normal conhecer o processo do parto, seus direitos, conversar com quem passou por esta experiência, e não ficar ouvindo pessoas que não têm embasamento, mas querem dar opinião sobre o assunto. É preciso acreditar em si e ir atrás do que se quer. Todas nós somos capazes!





Inácio  e Joice:
trabalho de parto durou nove horas e 30 minutos


 


Joice e Sandoval:
apoio do marido foi fundamental durante o trabalho de parto






“Queria sentir o meu bebê nascer e jamais imaginei alguém fazendo isto por mim”.
JOICE






Na rede privada de saúde, proporção de partos cirúrgicos chega a 88%. Recomendação da Organização Mundial da Saúde é para que cesáreas sejam até 15% do total.

 






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