Homens rasgam a velha cartilha que mostrava o que era atribuição do pai e o que era da mãe
Eles não carregaram um bebê por nove meses na barriga e nem sentiram as tão temidas dores do parto, mesmo assim, muitos homens acabam assumindo, seja por uma imposição da vida ou por vontade própria, as rédeas dos cuidados de seus filhos. Desde que suas duas meninas nasceram, o empresário Cléo Nunes, 53, fez questão de não se moldar somente pelo papel de provedor da família que a sociedade há tempos definiu. Ele sempre foi um pai presente na vida da Bianca, 24, e Manuela, 19, um comportamento fundamental para que ele conseguisse tomar conta delas sozinho quando sua esposa Carmen Lúcia da Cunha faleceu.
A perda precoce da mãe fez com que as meninas amadurecessem para enfrentarem junto ao pai a situação. “O começo foi muito difícil, já que a minha esposa era o alicerce da família, mas aos poucos fui aprendendo a executar tarefas de mãe, como cuidar da casa, cozinhar, levar as meninas ao médico, além de procurar manter um diálogo aberto com elas”, conta orgulhoso de ter sido um pai que fez e ainda faz as honras de mãe para as filhas. Afinal, o pai separado ou viúvo precisa desenvolver aspectos de cuidador, como conferir se o filho lavou a orelha direito e se a casa está funcionando em ordem. Por mais que ele tenha quem o auxilie nessas tarefas, o comando é dele.
“A nossa mãe era a luz da casa, a saudade está sempre presente, entretanto para conseguir enfrentar a perda foi fundamental o apoio e o papel do nosso pai. Éramos adolescentes, então aceitar tudo o que estava acontecendo era muito difícil, mas graças a nossa união tudo deu certo”, conta Bianca. Uma declaração recebida com alivio pelo pai que sempre teve como grande preocupação encontrar formas de amenizar a dor das filhas. “Meu medo não era não conseguir dar conta do cuidado delas ou não aprender a cuidar da casa, meu maior receio era vê-las sofrendo”, ressalta Cléo.
Cléo com Bianca e Manuela: ele ficou no papel de pai e mãe quando a esposa faleceu há quatro anos
Um pai mais presente que muita mãe
Há pelo menos uma década, a sequência da história de casais divorciados e com crianças era basicamente a mesma: enquanto a mãe conseguia na Justiça a guarda dos filhos, era de responsabilidade do pai pagar a pensão alimentícia deles. De maneira gradativa, este cenário está mudando e será cada vez mais comum encontrar pais cuidando dos filhos após a separação. Depois do divórcio, o empresário Angelo Pippi Júnior, 43, assumiu a guarda dos filhos Angelo José, 20 e Daniela, 17. A fase de adaptação foi muito complicada, pois o pai teve que aprender a cuidar sozinho dos filhos. “Mas eu fiz bem meu papel, nunca deixei faltar carinho e atenção para eles”, conta o empresário.
Para o pai, o maior orgulho é ter criado filhos educados, que não tem nenhum vício e em nenhum momento se rebelaram por terem crescido sem a presença da mãe. “Como não convivo com minha mãe desde os meus sete anos, acostumei com a imagem só do meu pai presente, tanto que no Dia das Mães felicitei o meu pai e esqueci de dar os parabéns para minha mãe” conta Daniela que é fã número um do pai. Angelo José engrossa o coro. “Se o meu pai que poderia ter se revoltado com a situação não se revoltou, não tinha como eu me revoltar, já que meu pai sempre me deu o melhor exemplo”, ressalta o menino. Se no passado ele rasgou a velha cartilha, que mostrava o que era atribuição do pai e o que era da mãe, hoje ele olha para trás com orgulho e segue arregaçando as mangas para cuidar sozinho dos filhos.
Angelo com os filhos Daniela e Angelo José: no Dia das Mães, o parabéns é dele
Pai-mãe
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Pode ser difícil no começo, mas os pais precisam se organizar para assumir mais tarefas e devem compreender que os filhos também estão se adaptando à situação. Criar os filhos sozinho vai exigir muitas habilidades e competências, mais flexibilidade, maior capacidade de ouvir, de se comunicar e será necessário determinar limites.
Não tente compensar a falta da mãe com concessões, permissividade ou coisas materiais. O pai tem que se tornar mais presente, oferecendo especialmente segurança afetiva.
Crianças reagem à morte dependendo de como foram criadas antes do momento dessa perda. Se os pais não têm medo da morte, se não pouparam os filhos das situações de perda ela desenvolverá recursos para elaborar a perda e o luto com maior habilidade. Já no caso de ausência por separação dos pais pode haver prejuízos no desenvolvimento psíquico e será preciso uma reestruturação familiar para que a criança elabore a situação. Sempre com respeito aos sentimentos da criança em relação à mãe ausente.
Para evitar a revolta dos filhos, o pai deve mostrar que embora eles sempre sonhem com famílias perfeitas, sem erros e sem faltas, na vida temos muitas situações que precisamos enfrentar e superar. Deve impor limites, mostrar em atitudes a importância do limite e da obediência. A revolta expressa que não houve elaboração da situação, indicando que há conflito e desequilíbrio, então é interessante procurar ajuda profissional, pois na revolta há sofrimento.
Podem ocorrer nas datas significativas como o dia das mães, processos de tristeza, ansiedade, sonhos ou crises e isso revela que a criança ainda está com dificuldade de superação do processo de perda. O pai deve procurar mostrar ao filho que ele não está sozinho, dar atenção, carinho e cuidar desses sentimentos. Respeite a decisão do filho de participar ou não dessas atividades.
É importante esclarecer aos filhos com tranquilidade que novos relacionamentos surgirão na vida dos pais e que capacidade de amar os filhos não mudará com isso. A nova companheira não deverá ter a pretensão de substituir a mãe, ao menos em casos de grande ausência materna e aceitação dos filhos. Dialogar sempre com os filhos, mostrar o que eles podem ganhar com uma nova família e que isso pode melhorar a estrutura com novos integrantes.