Sentir medo é normal, o problema é quando ele é criado pela mente, quase sempre desproporcional ao risco real
É comum as pernas tremerem quando se fica frente a frente com um cão feroz. Ou então suar frio durante uma apresentação para um auditório lotado, se você ainda não está acostumado a esse desafio. Sentir medo é uma reação natural do corpo diante de uma situação tensa ou ameaçadora. Foi esse sentimento que permitiu à espécie humana multiplicar-se e dominar a Terra. Graças a ele, nossos ancestrais escaparam de ataques de animais ferozes e de outras ameaças naturais. Mas, por motivos diversos, muitos dos quais ainda não totalmente esclarecidos pela ciência, algumas pessoas apresentam um medo patológico em relação a situações que estão longe de representar uma ameaça real.
É esse temor imaginário de algo ou de uma determinada situação, mais complexo e difícil de lidar, que os especialistas chamam de fobia. Doença que, segundo o dicionário Aurélio, é a designação comum dada às diversas espécies de medo mórbido ou patológico; horror instintivo a alguma coisa; aversão irreprimível. De acordo com a psiquiatra Fernanda Boeck, 39 anos de idade, sendo 15 de profissão, as fobias são medos persistentes de situações que normalmente não incomodam a maioria das pessoas. “É claro que, dependendo das circunstâncias, as pessoas podem exibir reações de medo mais intensas do que de costume. Um cachorro pode parecer mais assustador do que outro. Mas é importante saber quando esse medo está saindo de controle”, observa.
Como estabelecer então essa diferença entre o medo razoável e uma fobia? Existem características que irão determinar essa diferenciação. O medo que o fóbico sente, por exemplo, interfere nas atividades do cotidiano. Ele muitas vezes se afasta dos amigos ou do trabalho para fugir daquilo que lhe causa temor. (Ver quadro Fique de Olho). Segundo Fernanda, pelo menos duas em cada dez pessoas estão predispostas a desenvolver algum tipo de fobia que pode ser de avião, de altura, de elevador, de escuro, de um animal doméstico ou até mesmo de gente. “É difícil determinar porque determinada pessoa sofre de um transtorno mental e outras não, não há ainda um consenso sobre isto na literatura. Diversos fatores contribuem para que um transtorno se manifeste, entre eles: fatores genéticos, estresses de vida, traumas”, ressalta a médica.
CURA - Segundo Fernanda, quem sofre com alguma fobia não precisa se sentir condenado a conviver com esse sentimento pelo resto da vida. “Existem várias abordagens terapêuticas, além de tratamento com remédios”, observa. Fernanda diz, que ao contrário do que acontecia antigamente, hoje muitos pacientes estão procurando ajuda para tratar fobias. “Esse assunto vem deixando de ser um tabu, cada vez mais as pessoas buscam tratamentos para garantir uma vida normal”, comenta a psiquiatra.
Fernanda: as fobias são medos persistentes de situações que normalmente não incomodam a maioria das pessoas
Antes que você comece a achar que é fóbico, veja o que define exatamente essa patologia:
. O contato com o objeto, bicho ou situação temida provoca crises de ansiedade: palpitações, tremores, rubor, boca seca e mal-estar estomacal são sintomas típicos.
. O grau de sofrimento causado por esse contato geralmente é intenso.
. É irracional. Por exemplo, não faz o menor sentido ter medo de galinhas, já que galinhas não fazem mal a ninguém.
. É um medo desproporcional. Quem tem fobia de avião leva mais em conta as insignificantes estatísticas de acidentes aéreos do que a altíssima taxa de sucesso dos voos.
. Interfere nas atividades do cotidiano. O fóbico se afasta dos amigos ou do trabalho para fugir daquilo que lhe causa temor.
. Uma fobia pode traduzir-se em reações físicas violentas. Ao deparar com o objeto do medo, o fóbico pode ter sudorese e ser acometido por tonteiras, tremedeiras, taquicardia e dificuldades de respiração. Muitos têm uma sensação de morte iminente.
A palavra fobia vem do grego phobos. Phobos era a divindade mitológica capaz de causar nos homens um medo incontrolável. Por esse motivo, os escudos dos soldados gregos muitas vezes traziam estampada a imagem de Phobos – dessa maneira, acreditavam ser mais fácil apavorar seus inimigos.
Existem mais de 500 fobias cadastradas
As mais comuns são:
. Aracnofobia - medo de aranhas.
. Acrofobia - medo de lugares altos.
. Aerofobia - medo de voar de avião.
. Astrafobia - medo de trovões e relâmpagos.
. Claustrofobia - medo de locais fechados ou confinados.
. Hematofobia - medo de ver sangue ou de sangrar.
. Tacofobia - medo de velocidade.
As mais exóticas:
. Triscaidecafobia - medo do número 13.
. Melaxofobia - medo de amar.
. Peladofobia - medo de pessoas carecas.
. Araquibutirofobia - medo de que a pele de amendoim ou de pipoca fique grudada no céu da boca.
Ai que medo!
Clarisse Almeida, 59, professora
“Eu tenho pânico de elevador, desde uma vez que fiquei trancada em um prédio em Porto Alegre. O elevador parou de frente para a parede eu não sei precisar quanto tempo demorou, mas parecia nunca passar aquela aflição. Eu estava grávida de sete meses e me vi sozinha naquela situação, aí o desespero bateu e acredito que fiquei traumatizada. Hoje evito sempre que posso o elevador. Já cheguei a subir 14 andares pela escada só para evitar aquela sensação de perigo e pânico. Claro, se for inevitável, utilizo o elevador”.
Luana Danzmann, 30, estudante de Biomedicina
“Tenho pânico de qualquer bicho que tenha penas, não importa se é galinha, urubu ou um beija -flor. Sei que são inofensivos, mas quando me deparo com a situação, entro num medo irracional. E não adianta dizer que não precisa ter medo. Não sei explicar de onde vem essa sensação horrível, pois quando eu era pequena, meu pai tinha um aviário e não lembro de ter esse medo. Me sinto tão mal quando vejo um bicho de penas que começo a suar, entro em pânico, perco a noção. Posso estar em uma loja ou local público, que eu grito, e quando passa me dá uma crise de choro. Ainda vou tentar me livrar disso, pois em muitas situações acaba me prejudicando esse medo todo”.
Gissela Brum, 58, professora aposentada
“O medo de permanecer em lugares fechados me fazia desistir até mesmo de viajar por ter que passar horas digamos presa dentro do carro, ônibus ou avião. Depois de perder algumas oportunidades, percebi que estava deixando de fazer coisas das quais eu gostava muito. Busquei ajuda, li bastante sobre medo e estudei as razões do pânico e consegui diminuir um pouco a aflição de estar em lugares fechados.No ano passado consegui enfrentar um cruzeiro. Hoje sofro um pouco quando penso em viajar, mas já não deixo mais de fazer”.