Álbum da Copa mobiliza crianças e faz adultos voltarem à infância
Simples figurinhas com fotos dos estádios sul-africanos, os escudos das seleções e os rostos dos jogadores que disputam a Copa do Mundo 2010 estão servindo de passaporte e levando muita gente grande a uma viagem no tempo. Adultos de diferentes gerações se infiltram em grupos de crianças e adolescentes para trocar os cromos, xeretar os álbuns alheios e, com isso, reviver os tempos de infância, quando fazer coleção era um dos passatempos favoritos, motivo de integração entre a gurizada.
Hoje a internet e os aparelhos eletrônicos – do videogame ao telefone celular – mudaram bastante as brincadeiras, mas mesmo assim a simples coleção e troca de figurinhas estourou já no período pré-Copa. Em Cachoeira do Sul a Nascente é a revistaria credenciada pela editora para vender o álbum oficial e os cromos. Logo que o álbum começou a circular houve uma movimentação fora do comum no lugar, principalmente nos começos de tarde de domingo.
Era quando, segundo o gerente comercial Alex Nascente, chegava a remessa semanal de cromos. Cada pacote vem com cinco figurinhas e é vendido a R$ 0,75. “No começo recebíamos poucos pacotes para uma demanda que não parava de crescer. Em alguns dias chegou a ter fila de espera. Literalmente. Quase 30 pessoas ficaram esperando o início das vendas”, relata Nascente, que também montou seu álbum. No começo cada cliente levava, em média, 30 pacotes. E boa parte era adulto fazendo a própria coleção. “Normalmente esse tipo de coisa está focada em crianças e adolescentes, mas o álbum da Copa virou paixão de todas as idades”, garante o empresário-colecionador.
Apaixonado por futebol e ex-jogador profissional, Antonio Moyses Nietiedt, 28 anos, não pensou duas vezes antes de iniciar sua coleção. Na infância ele costumava montar os álbuns do Brasileirão e viu, no da Copa, a chance de relembrar o passado. “Também é uma maneira de conhecer as seleções para acompanhar melhor a Copa do Mundo. A formação de algumas é pouco conhecida”, justificou, dizendo que colegas de trabalho também estão colecionando. “Me envolvi de tal forma que cheguei a pedir para um amigo trazer pacotes de figurinhas de Rio Pardo e de Santa Cruz”, conta Nietiedt, que calcula ter investido R$ 300,00 na brincadeira.
A psicóloga Léa Altoé, 63 anos, dividiu a coleção com o neto Leonardo, de 12. “O álbum é dele, mas acabei participando por tabela. E foi muito bom, uma experiência ótima que me fez reviver bons tempos. Me senti criança outra vez”, conta. Segundo ela, além de estimular os mais novos a conhecerem os competidores e, consequentemente, um pouco da cultura de cada país, a coleção foi uma desculpa que muito adulto usou para voltar a brincar. “Antigamente todo mundo tinha coleção de alguma coisa, era muito interessante”, relembra.
Segundo Léa, à medida em que os 640 espaços do álbum iam sendo preenchidos, aumentava a expectativa. A dificuldade de obter os cromos que faltavam acabou se tornando um estímulo para a diversão. “No final chegamos a comprar 150 figurinhas e aproveitar menos de 20”, relata a vovó-colecionadora, dizendo que a saída foi iniciar a temporada de trocas. Muitas foram obtidas por Leonardo na escola. Outras, numa tarde diferente organizada pela concessionária Spengler. Muitos colecionadores botaram álbuns e figurinhas repetidas na sacola e saíram de casa com o sonho de completar a coleção. “Fui para o encontro com 40 espaços em branco e voltei com apenas cinco”, comemora Antonio Nietiedt.
O bancário aposentado Edgar Becker, 79 anos, também recorreu à tarde de troca. “Acumulei muita figurinha repetida”, justificou, dizendo que até o encerramento do mundial da África do Sul pretende estar com o álbum completo, para guardá-lo junto das outras coleções. “Sou do tempo em que sabonete vinha com figurinha para as pessoas colecionarem. Vinham imagens de artistas de cinema”, lembra Becker, que se diz um apaixonado por coleções. “É uma brincadeira saudável, instrutiva e que, agora, me faz voltar no tempo”.
Figurinhas viraram mania entre adultos e crianças
Antonio Moyses Nietiedt
Edgar Becker (à direita): troca de cromos
Léa Altoé e Leonardo
Encontro reuniu colecionadores