É bom ficar de olho
Check-up está virando rotina e ajudando cada vez mais gente a evitar complicações e aumentar a qualidade de vida
Dedicar um pouco de dinheiro e algumas horas ao ano para fazer uma intensa bateria de exames era algo que nunca esteve nos planos de José Vasconcelos de Almeida, 69 anos, até ele ser surpreendido por um infarto. Há 16 anos, no entanto, desde que precisou ser submetido a uma cirurgia de ponte de safena, o sindicalista e vereador não abre mão do check-up anual. “Se tornou algo indispensável. Uma vez por ano paro tudo e faço uma série de exames que me dão um panorama de como está a saúde. É tão essencial que se tornou um hábito”, revela, dias depois de ter concluído, com sucesso, a sua revisão anual.
A lógica do check-up é simples: se uma doença é detectada em estágio inicial, maior é a chance de ela ser curada. As estatísticas comprovam isso. No caso do câncer de próstata, uma das maiores causas de morte entre os homens, cerca de 80% dos tumores são curados quando descobertos precocemente. Quanto ao câncer de mama, um dos grandes pesadelos femininos, houve uma queda de 30% nos óbitos ao longo dos anos 90, quando se popularizou a mamografia.
Cada vez mais gente está incluindo o check-up em sua programação para o ano. Revistas e sites especializados informam que esse número chega a crescer 20% ao ano no Brasil. Nas grandes cidades é comum as empresas se preocuparem com isso. E a explicação é simples: é mais econômico e produtivo investir na prevenção de problemas de saúde do que custear tratamentos de doenças já instaladas. Um bom check-up, cujo valor passa de R$ 1 mil, é suficiente para convencer uma pessoa a parar de fumar, a praticar exercícios ou mudar quase que totalmente seu estilo de vida.
Isso se deve aos avanços da medicina nesta área. Até o lançamento de tomógrafos computadorizados que registravam o organismo em funcionamento a uma velocidade de quatro fotos por segundo, na metade dos anos 90, o homem não havia inventado aparelhos que mostrassem com nitidez e amplitude a atividade no interior de seu próprio corpo. Em pouco mais de 10 anos os avanços foram muitos e hoje se encontra, inclusive em Cachoeira do Sul, equipamentos capazes de calcular o risco cardiovascular de uma pessoa para os próximos 10 anos a partir da medição da espessura da carótida.
É na área da cardiologia que os diagnósticos por imagem têm se mostrado especialmente eficazes. Segundo a cardiologista Adriane Tischler, da Clínica Dona Emília, especializada em check-up, mais do que a detecção precoce de doenças, os aparelhos e softwares disponíveis atualmente são eficientes na detecção de riscos. “Com isso se viabiliza a verdadeira medicina preventiva, que passa ter uma abordagem focada em saúde e não em doença”, diz a médica.
O ecocardiograma é um exemplo disso. Trata-se de um ultra-som do coração que fornece dados sobre funcionamento, tamanho, forma e movimento do músculo cardíaco e suas válvulas. É indicado para diagnosticar cardiopatias e acompanhamento em hipertensos e diabéticos. “O levantamento do percentual do risco de cada pessoa auxilia no planejamento para redução dos eventos cardíacos e tratamento precoce intensificado, pois muitas pessoas em estágios iniciais e intermediários de arterosclerose não demonstram sinais de risco ou sintomas da doença”, adverte a cardiologista.
O ideal é que um adulto com ritmo de vida normal faça seu primeiro check-up por volta dos 40 anos. Pessoas com histórico de doenças graves na família devem antecipar os testes. Os exames, dos mais simples aos mais sofisticados, serão requisitados pelo médico de acordo com o histórico do paciente. Os mais simples, que verificam colesterol e hipertensão, não devem ser desprezados. Metade das pessoas que tem hipertensão sequer sabe do problema porque, em geral, não sente alterações na saúde. Daí a importância de se fazer uma série de verificações independente de sentir ou não algum sintoma. A periodicidade com que os próximos check-ups serão feitos é definida geralmente de acordo com os resultados do primeiro. Uma bateria de exames leva, em média, seis horas e parte dos resultados já sai na hora. Outros podem até ser enviados por e-mail no dia seguinte.
MULHERES – De acordo com a cardiologista Adriane Tischler, o número de check-ups realizados em Cachoeira é crescente. Mas esta continua sendo uma preocupação visivelmente masculina. “O que é um grande equívoco. Mulheres têm duas vezes mais chances de morrer de infarto do que os homens. Elas costumam apresentar doenças cardiovasculares mais tardiamente do que os homens e buscam ajuda médica em fases mais avançadas”, destaca a médica, citando dados apresentados em um recente congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Na verdade, segundo Adriane, as mulheres sabem da importância do check-up e são as maiores incentivadoras de maridos e namorados, mas esquecem dos próprios riscos. “A procura de mulheres pelo serviço aumenta timidamente em relação aos homens, que recebem muita recomendação de médicos, parentes e amigos. Basta um estresse no trabalho ou um desconforto durante a atividade física para logo pensar em uma revisão”, acrescenta. Ou seja, junto com as revisões ginecológicas as mulheres precisam checar também o coração.
O funcionário público Geraldo Ache, 56 anos, faz religiosamente um check-up anual desde quando tinha 45. Acredita que o monitoramento do coração, pressão arterial, sangue e próstata é essencial para evitar complicações que podem começar a aparecer com a idade, mas aposta em algo mais. “Além de fazer check-up uma vez por ano procuro me preocupar com três pontos que considero tão importantes quanto os exames: a alimentação, a prática de atividades físicas e o estresse no trabalho. Não adianta apenas fazer check-up e manter uma vida desregrada”, observa. Para evitar sustos após os testes, ele mantém a rotina organizada no trabalho, para reduzir o estresse, faz exercícios físicos três vezes por semana e cuida a alimentação. “Procuro me cuidar sempre. É melhor do que passar o resto da vida tomando remédios”, resume Ache, que vem testemunhando o avanço da medicina preventiva.
PARA ELES E ELAS
Quando | Frequência | Por quê? | |
Pressão arterial | A partir dos 20 anos | Uma vez por ano | Manter normais os níveis de pressão arterial – 12 por 8, em média – corta em 50% a possibilidade de derrame e infarto |
Colesterol | A partir dos 30 anos | A cada dois anos | O colesterol alto é um dos principais fatores de risco de infarto |
Glicemia | A partir dos 40 anos | A cada três anos | A análise da quantidade de açúcar no sangue é útil para o diagnóstico precoce do diabetes tipo 2. Quando a doença é descoberta ainda no começo, reduz-se em 50% a ocorrência de complicações decorrentes do mal, como cegueira, infarto e insuficiência renal |
Fezes | A partir dos 50 anos | Uma vez por ano | A detecção precoce de lesões intestinais reduz em 30% a taxa de mortalidade por câncer de intestino |
PARA ELES
Exame do toque retal e PSA |
A partir dos 40 anos, para homens com histórico familiar da doença. E depois dos 50 anos para todos | Uma vez por ano | Apesar de desconfortável, o toque retal é a técnica mais eficaz para identificar alterações no tamanho da próstata – quando mais volumosa, maior o risco de câncer. Já o exame dosa o nível da proteína PSA no sangue. Uma grande quantidade de PSA indica a possibilidade de câncer de próstata. Com o teste é possível descobrir tumores pequenos, que escapam do toque |
PARA ELAS
Autoexame de mamas |
A partir dos 20 anos | Uma vez por mês | Com o toque pode detectar secreções nos mamilos, feridas e caroços. Esses nódulos podem passar despercebidos pelas máquinas |
Mamografia | Aos 35 anos a mulher deve fazer uma mamografia, para comparações com os exames realizados no futuro | Dos 40 aos 49 anos, uma vez a cada dois anos. Acima dos 50, uma vez por ano | A mamografia é uma das armas mais eficazes para a detecção precoce do câncer de mama. Nos anos 90, com a popularização desse exame, o número de vítimas fatais da doença caiu 30% |
Ultrassonografia das mamas |
A partir da primeira menstruação para mulheres com histórico familiar da doença | Uma vez por ano, até os 35 anos | Em mulheres jovens, a ultrassonografia é um exame mais eficaz que a mamografia para a detecção de tumores. Isso porque ela varre melhor estruturas mais rígidas, como tendem a ser as mamas dessas pacientes |
Papanicolau e colposcopia |
Depois da primeira relação sexual |
Uma vez por ano | Os exames detectam alterações no útero e ovários. Desde a disseminação do papanicolau as mortes caíram 70% |
Densitometria óssea |
Entre os 30 e 40 anos, deve-se fazer um primeiro exame para verificar se a perda de massa óssea é normal | Depois da menopausa, uma vez por ano | A partir dos 35 anos, toda mulher perde massa óssea. A perda maior ocorre nos 10 primeiros anos depois da menopausa. Sem os exames regulares, a osteoporose tende a ser descoberta após uma fratura, quando pode ser tarde demais. |
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