Professor Pardal cachoeirense
Rubem Prass ganhou destaque pela fabricação de seu próprio carro, mas ele fez muito mais que isso
Lembra do Professor Pardal, o famoso inventor das histórias em quadrinhos da Disney? Amigo do Pato Donald e do Tio Patinhas, ele é responsável por muitas invenções e maluquices, como o chapéu pensador que o ajuda nas ideias. Pois Cachoeira do Sul também tem seu Professor Pardal, o eletrotécnico aposentado Rubem Prass. Ele tornou-se conhecido por ter construído em 1956 seu próprio carro, mas o que muitos não sabem é que sua casa abriga inventos de todos os tipos, que passam não só pela sua área profissional, como pela marcenaria, serralheria, construção e até mecânica.
O talento e a criatividade desse senhor cheio de energia vem desde a infância, quando ele mesmo construía seus brinquedos. Hoje, aos 85 anos de idade, se engana quem pensa que ele parou de trabalhar. Boa parte do dia é dedicada a suas criações e estudos de novos projetos. O mais curioso é que Rubem possui inventos dignos de grandes engenheiros e nunca se formou no ensino superior. Autodidata, seu conhecimento sobre eletricidade e eletrônica foi adquirido através de muita leitura. “Na infância já consertava os faróis das bicicletas típicas da época e criava pequenas coisas. Essa história espalhou-se e na adolescência fui convidado para trabalhar como aprendiz de eletricista. Como gostava muito, resolvi me aperfeiçoar e seguir nesse ramo, junto à eletrônica”, conta.
Nem mesmo uma deficiência auditiva que o faz escutar com bastante dificuldade desde a juventude foi empecilho para qualquer trabalho que ele se propôs a fazer. “Muitos dos meus inventos serviram para eu poder escutar melhor e assim melhorar minha qualidade de vida”, observa. Segundo Rubem, já houve interesse de empresários em patentear algumas invenções e até convite para trabalhar na área de criação de grandes empresas, mas por ter sua profissão consolidada na cidade, ele nunca aceitou os convites. LINDA foi conferir de perto esses inventos. Veja o que a reportagem encontrou de mais curioso na casa dele durante uma tarde de visita!
Com o objetivo de poupar energia elétrica, Rubem criou um aquecedor que usa energia solar. Com tambores de 120 litros e dois coletores, a água aquecida no telhado da casa é distribuída para a cozinha e para o chuveiro. “Sempre tem água quente, a não ser quando chove por mais de dois dias”, conta. O sistema de aquecimento foi tão bem planejado que já funciona há 30 anos.
Movimentadores de portões são comuns, mas Rubem decidiu criar seu próprio equipamento a partir de um motor de máquina de lavar roupas. Os diferenciais já começam na estrutura da porta. Sem ter espaço para deslizar horizontalmente, ele colocou dobradiças e fez trilhos para que ela abra curvada. A estrutura é movimentada através de correias de bicicleta. Mas a criação não para por aí. Se ele esquecer de acionar o fechamento, dentro de um tempo determinado, ela fechará sozinha.
As invenções também saíram da casa da família Prass. Por não escutar o que era dito nos cultos realizados no Templo Martin Lutero, ele decidiu instalar um sistema transmissor de FM que permite sintonizar o microfone através do rádio e assim poder ouvir com clareza. Esse sistema permite que todos que têm problemas auditivos levem seu rádio para escutar através dele o que está sendo falado. O mesmo dispositivo foi instalado por ele no Cine Via Sete.
A residência da família nunca fica sem iluminação, isso porque Rubem criou um gerador de energia ligado à bateria de seu carro. Quando falta luz elétrica, ele aciona o sistema que liga lâmpadas na garagem, cozinha e sala de estar.
Casado com a comerciante aposentada Ieda Prass, 75, e pai de cinco filhos, na década de 50 Rubem resolveu facilitar a vida da esposa que precisava cuidar de muitas fraldas criando uma máquina especial para lavá-las. Em um pequeno tonel com um dispositivo vibratório, as fraldas eram limpas através da trepidação da água. “Foi útil durante todo o tempo em que nossos filhos eram bebês, só não dava para lavar outras roupas, já que o dispositivo só funcionava com pequenas peças”, conta Ieda.
A dificuldade de escutar o fez criar um dispositivo que acende uma luz quando a campainha ou o telefone tocam em sua casa. Além disso, o telefone foi adaptado para que ele também possa se comunicar. Através de uma bobina magnética instalada no fone, o som é transmitido por pulsos para seu aparelho auditivo, amplificando o som das vozes.
Outra invenção é um ar-condicionado central para a casa. Um único equipamento é responsável por aquecer ou resfriar três quartos, banheiro e sala de estar. Além dessa utilidade, através de uma adaptação em um armário, ele serve como máquina de secar roupas.
O problema de falta de incidência solar em seu terreno que prejudicava a secagem das roupas colocadas no varal foi resolvido com um elevador para o terraço. Percebendo que o sol aquecia mais essa parte da casa, ele decidiu inventar uma forma de acesso, mas que não precisasse de escada, pois baldes também teriam que ser levados até a parte de cima. A solução encontrada foi fazer um elevador. Movimentado com um motor adaptado de máquina de lavar roupas, a plataforma é guindada por correias de bicicleta através de trilhos. Além disso, através de dispositivos de segurança, o equipamento não permite que a porta que dá acesso a ele pelo terraço seja aberta se a plataforma não estiver no andar superior. O elevador já possui 26 anos e segue em pleno funcionamento, sendo usado diariamente.
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