Cachoeirenses em crise
Depressão se alastra e já é considerada o mal do século
Que a depressão é uma doença que se caracteriza por tristeza prolongada, perda de interesse por atividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço fácil não é nenhuma novidade. Basta, por exemplo, colocar a palavra no site de pesquisas Google para aparecer uma série de registros que falam sobre o transtorno. O ponto novo é que a doença vem se alastrando por todo o mundo e Cachoeira do Sul está na rota desse crescimento. Esse mal acompanha homens e mulheres ao longo dos tempos, porém, nunca tão intensamente como neste início de século.
Não existe levantamentos precisos da porcentagem total da população cachoeirense que sofre com a doença. De acordo com dados do Programa da Saúde Mental (PSM), da Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente, existem seis mil pacientes cadastrados, mas destes muitos sofrem de outros transtornos e ainda de dependência química. Segundo a coordenadora do PSM, enfermeira Núbia Bastos, 50 anos de idade e 32 de profissão, o programa se baseia pelos números da Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirma que uma em cada quatro pessoas em todo o mundo sofre, sofreu ou vai sofrer com a doença. “Essa é a última estatística feita pela OMS e assim como no campo estadual, nos baseamos por ela, ou seja, provavelmente 25% da população de Cachoeira sofre com depressão em algum momento de suas vidas”, salienta.
Estudos recentes mostram que em todo o país de 10% a 25% dos pacientes que procuram médicos clínicos gerais apresentam sintomas dessa enfermidade. Essas porcentagens são semelhantes ao número de casos de hipertensão e infecções respiratórias que os clínicos atendem. Apesar do crescente número de depressivos, hoje Cachoeira conta com apenas um psiquiatra que atende através do Sistema Único de Saúde (SUS), a médica Naja Marchi. Atendendo através de outros convênios ou na forma particular, há pelo menos outros quatro médicos: Fernanda Boeck, Mário Bizzi, Vilnei Garcia e Bruna Chaves Lopes. Para Núbia, é muito pouco um profissional para atender a demanda da saúde pública. “Seria necessário pelo menos mais dois, totalizando um especializado para transtornos psicológicos, um para dependência química e um para atender crianças e adolescentes”, observa a enfermeira.
DE ONDE VEM? - As causas diferem muito de pessoa para pessoa, porém, é possível afirmar que há fatores que influenciam o aparecimento e a permanência da depressão. Os mais comuns são condições de vida adversas, o divórcio, a perda de um ente querido, o desemprego, a incapacidade em lidar com determinadas situações ou em ultrapassar obstáculos. Ninguém está imune, é uma doença democrática que pode afetar pessoas de todas as idade e classes sociais. Entretanto, a depressão é mais comum nas mulheres do que nos homens. Não se sabe se a diferença é devida a pressões sociais, diferenças psicológicas ou ambas.
A depressão desestrutura a mente, que, por sua vez, ao irradiar energia negativa, desequilibra os sistemas nervoso, endócrino e imunológico
Psicólogo ou psiquiatra?
Apesar de ser bastante confundida muitas vezes com a figura do psicólogo, somente psiquiatras são capazes de tratar a depressão, já que a doença necessita de medicação como auxiliar no tratamento. Formados em medicina, esses profissionais tratam em geral casos graves de depressão. Já os psicólogos têm papel fundamental no auxílio da doença quando somente a terapia é capaz de resolver. Em alguns casos acontece o uso de medicamentos e de intervenções psicoterapêuticas em conjunto.
Os sintomas da depressão interferem drasticamente com a qualidade de vida e estão associados a altos custos sociais: perda de dias no trabalho, atendimento médico, medicamentos e suicídio. De acordo com levantamentos médicos, os que já tiveram um episódio de depressão no passado correm 50% de risco de repeti-lo. Se já ocorreram dois, a probabilidade de reincidir pode chegar a 90%; e se tiverem sido três episódios, a probabilidade de acontecer o quarto ultrapassa 90%.
Saiba quais os sintomas mais comuns da depressão
. Modificação do apetite (falta ou excesso de apetite)
. Fadiga, cansaço e perda de energia
. Perturbações do sono (sonolência ou insônia)
. Falta ou alterações da concentração
. Preocupação com o sentido da vida e com a morte
. Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima, sentimentos de culpa e sentimento de incapacidade
. Irritabilidade
. Manifestação de sintomas físicos, como dor muscular, dor abdominal e enjôo
. Desinteresse, apatia e tristeza
. Alterações do desejo sexual
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