Dezembrite
“É importante encontrar um equilíbrio saudável entre a busca por metas e o autocuidado, permitindo-se tempo suficiente para realizar tarefas de forma sustentável e sem sobrecarga”. Marcele Silva
A síndrome que ataca no final do ano
O nome pode até soar esquisito, mas essa síndrome, infelizmente, não é rara. Ela se refere a um conjunto de emoções que deve ser familiar para você – se nunca passou por isso, provavelmente conhece alguém que já. A “dezembrite” aflora sintomas comuns, como angústia, estresse e depressão.
É verdade que o final do ano é associado a um tempo de festa, mas é também onde despertam os gatilhos de ansiedade. Marcele Silva, 34, psicóloga clínica especialista em Terapia Familiar e Transtornos Globais do Desenvolvimento, Infância e Adolescência, explica quais fatores podem estar relacionados a essa síndrome:
1 - Expectativas e pressão social: muitas vezes, as festas de fim de ano vêm acompanhadas de expectativas elevadas sobre como deveriam ser as celebrações, levando a uma pressão para atender a essas “exigências”.
2 - Conflitos familiares: reuniões familiares podem ressaltar tensões ou conflitos não resolvidos, causando estresse emocional.
3 - Sobrecarga financeira: o aumento nos gastos com presentes, festas e viagens pode causar ansiedade, especialmente se o orçamento está apertado.
4 - Falta de tempo: a correria para finalizar compromissos profissionais e pessoais antes do ano acabar pode gerar uma sensação de sobrecarga.
5 - Reflexão e comparação: o final do ano é um momento de reflexão, e algumas pessoas podem se sentir insatisfeitas com suas conquistas, comparando-se a outras pessoas.
6 - Mudanças de rotina: as férias podem alterar a rotina habitual, o que pode ser desconfortável para algumas pessoas.
7 - Solidão: para aqueles que estão longe da família ou que perderam entes queridos, o fim de ano pode ser um momento de tristeza e nostalgia.
Ano acabando: é hora de ativar o “modo turbo”?
Ao perceber que mais um fim de ano se aproxima, algumas pessoas entram em surto. É nesse período que se costuma refletir sobre os objetivos não alcançados e os sonhos que ficaram para trás. Aí, vem o sentimento de culpa e de incapacidade; ao mesmo tempo em que se intensifica a “corrida” para cumprir metas pendentes.
Esse comportamento pode acarretar vários perigos e consequências negativas, tanto físicas quanto emocionais. A pressão para realizar tudo em pouco tempo pode aumentar os níveis de estresse e ansiedade, levando a um ciclo vicioso de pressão e exaustão. Segundo Marcele, isso tudo pode causar:
Exaustão física e mental: a tentativa de realizar muitas tarefas em um curto espaço de tempo pode resultar em fadiga extrema.
Diminuição da qualidade do trabalho: na pressa para cumprir prazos, a qualidade do trabalho pode ser comprometida, levando a resultados insatisfatórios e, possivelmente, a mais estresse no futuro.
Desinteresse e sobrecarga: a sobrecarga de tarefas pode levar a um desinteresse geral nas atividades, tornando-se cada vez mais difícil encontrar motivação para começar novos projetos.
Sintomas físicos: o estresse crônico pode fortalecer problemas de saúde, como insônia, dores de cabeça, problemas digestivos e até doenças cardiovasculares.
Crises nos relacionamentos: o foco excessivo em cumprir metas pode afetar relacionamentos, pois a pessoa tende a se tornar mais isolada ou irritada, prejudicando interações sociais.
Sentimento de culpa e baixa autoestima: quando as metas não são cumpridas, pode haver um aumento na autocobrança e na sensação de fracasso.
Cuidado
Sintomas psicológicos e emocionais podem desencadear outros comportamentos, incluindo o aumento da vontade de comer. Muitas pessoas recorrem à comida como uma forma de lidar com emoções negativas ou como uma maneira de buscar conforto. É o chamado “comer emocional”. Além disso, o estresse também pode afetar os hormônios que regulam o apetite, intensificando a sensação de fome.
Então... o que fazer?
A psicóloga reconhece que dezembro é um mês que traz à tona muitas emoções, mas enfatiza que também é um tempo importante para ressignificação. “Esse é um momento de criar metas realistas. Nesse fim de ano, utilize a esperança e o entusiasmo para dar o seu melhor no próximo ano que está por vir. Em vez de se sobrecarregar, crie objetivos a curto e a longo prazo”, sugere.
Marcele também recorda que este é um momento oportuno para cultivar as relações, fortalecendo laços familiares e compartilhando memórias afetivas. “Por fim, aproveite o final do ano para se renovar, criando uma oportunidade de crescimento e resiliência ao seu favor para um início mais significativo”, destaca.
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