Maya com dois anos, em Nova York

Pequenos mostram seus talentos na internet 

Não importa se são chamados de blogueirinhos ou mini influencers. O título pode até variar nas descrições dos perfis das crianças e adolescentes na internet, mas a verdade é uma só: elas fazem sucesso divulgando suas rotinas, hobbys e estilos de vida.  

No caso das crianças, as contas são criadas e monitoradas pelos pais. Ou seja, tudo é feito com a orientação e o consentimento deles. Mas não dá para negar que essa galerinha já nasceu na era digital e carrega no seu DNA uma série de habilidades que favorecem o desempenho nas redes sociais. E é assim, de forma natural, por meio do marketing de influência, que elas geram conteúdo para o público e ainda se divertem.  

Maya Carlos tem sete anos e é brasiliense, filha da cachoeirense Mariara Carlos, 44, jornalista, que se mudou para Brasília há 12 anos. A mãe conta que, incialmente, a ideia de criar um perfil para a filha era apenas para mostrar as fases do desenvolvimento dela. “Mas depois virou um serviço de divulgação da programação infantil de Brasília, unido ao nicho de moda infantil, já que ela mostra as roupas e calçados que recebe das lojas e marcas, e seguidamente é convidada para desfiles e sessões de fotos. O nicho de viagens, turismo e atrações também é o foco do perfil, e hoje considero que seja o principal, já que é o que ela mais gosta de mostrar”, contou.   

A pequena, que está no 2º ano do Ensino Fundamental, gera boa parte do seu conteúdo através das atividades do dia a dia. Além da escola bilíngue integral, Maya faz teatro musical, canto e sapateado. No seu Instagram, os seguidores também podem ficar por dentro dos eventos que acontecem na cidade onde mora e acompanhar suas tarefas rotineiras, que incluem os trabalhos da escola, a preparação da lancheira, o ensaio de uma canção ou uma ida ao cinema. 

A Maya e o mundo
A pequena influencer já teve a oportunidade de conhecer muitos países, e são nesses momentos que mãe e filha criam conteúdos diversificados para abastecer o perfil na internet. “Especialmente as viagens internacionais despertam bastante curiosidade e interesse de quem quer viajar com crianças. Diariamente recebemos pedidos de dicas de destinos recomendados e de como planejar esses roteiros”, afirmou Mariara. 

Durante a pandemia, elas passaram 10 meses em Cachoeira. Apesar de já ter viajado muito, para Maya, não existe lugar melhor do que a casa da vovó e do vovô. “Nesse período em que estivemos na cidade, embora mais reclusos, Maya fez muitos amiguinhos, ganhou seguidores e fez parcerias com lojas infantis. Sempre que estamos aí, Maya é convidada para eventos, fotos, ou para mostrar produtos e serviços. Ela adora!”, disse a mãe. 

Em troca das propagandas, Maya recebe benefícios e presentes, que incluem roupas, calçados, acessórios, parceria com a escola, brinquedos, convite para os principais eventos infantis, convites para restaurantes e muitas parcerias em viagens: ingressos, estadias, transfers, refeições, serviços personalizados e sessões de fotos. Até o quarto de Maya é fruto de uma parceria. A pequena teve o projeto e a execução do seu quarto patrocinado por uma marca em troca de divulgações. 

A pequena influencer em Orlando, recentemente 

Espontaneidade da infância 

Maya é uma blogueirinha nata, que reúne as principais habilidades para desenvolver bem o papel de influenciar positivamente as pessoas na internet. Ela é carismática, fotogênica, comunicativa e consegue se conectar com o público com a sua espontaneidade.  Mas, segundo a mãe, apesar de se divertir, nem sempre Maya está com disposição total para as gravações. 

“Ela sabe que precisa produzir conteúdo com constância porque os seguidores esperam e, também, por conta do compromisso com as marcas. Entende isso e gosta de se dedicar. Mas em viagens, muitas vezes, ela diz que não quer gravar o tempo todo. E isso é respeitado. Eu planejo conteúdo focando justamente na espontaneidade dela ao chegar aos lugares e conhecer as atrações. Assim, ela curte e, naturalmente, gera conteúdo. Mas reconheço que nem sempre dá”, explica.    

Incentivo vem da família 

Os pais do Davi da Cunha da Rosa, 12, estudante do 7º ano do Ensino Fundamental, são empreendedores por natureza e passaram para o filho a determinação de conquistar seus sonhos através dos próprios esforços e dedicação. “Meus pais sempre me deram muita liberdade para eu começar a ganhar o meu próprio dinheiro. Me dão dicas de como fazer para realizar meus objetivos, baseado na experiência deles e no que fizeram quando começaram a trabalhar”, conta.  

Não é à toa que, desde muito cedo, Davi já desenvolveu a habilidade das vendas. Ele é carismático, criativo e comunicativo  e sabe bem usar seus talentos para chegar onde quer. Em uma conversa com sua mãe, teve a ideia de produzir docinhos caseiros para vender no comércio, pelo WhatsApp e na vizinhança. Com o dinheiro dos doces, já alcançou alguns de seus objetivos, como a realização de cursos de marketing digital e a compra de equipamentos para gravação. 

Isso tudo porque, há mais de um ano, Davi é figura conhecida na internet. Ele começou gravando vídeos para a empresa dos pais, mas com o sucesso do trabalho, ele a irmã chegaram a prestar serviços nessa área para outras empresas da cidade. “Gravar vídeos para divulgar as marcas é um hobby pra mim, pois gosto muito de fazer. Porém, também enxergo como uma possibilidade de trabalho, pois é desafiador e requer muita atenção”, destaca. 

Vitória Pereira Nascente, 10, é estudante do 4º ano do Ensino Fundamental. Ela viu dentro de casa o exemplo que precisava para despertar seu interesse pelas redes sociais. “A Vivi se espelha muito no irmão, João Vitor, que trabalha com marketing há mais de quatro anos. O mano sempre a incentivou a empreender, a ser criativa e, principalmente, a lidar com as estratégias de posicionamento nas redes sociais”, conta Lucimara Nascente, 48, empresária e mãe da Vitória.   

A exposição da pequena na internet começou com as propagandas para a loja da família, em Cachoeira, e para outras empresas também em Santa Cruz do Sul. Além disso, ela produz bijuterias para vender no seu próprio perfil do Instagram. “Gravar vídeos é uma paixão pra ela. Acha extremamente divertido criar conteúdo, interagir e expressar sua criatividade. Incentivamos, como uma forma de ela ir adquirindo experiência. Deixamos que ela se posicione, damos a ela espaço para ter sua própria voz e visão criativa, mas sempre com nossa supervisão atenta”, diz. 

Para os vídeos, Vitória conta com a ajuda do irmão de 24 anos. Enquanto ela tem as ideias, ele a ensina a entender a técnica de gravação e as estratégias por trás das redes sociais para gerar mais engajamento. “Como mãe, tenho notado o desenvolvimento de muitas habilidades na Vitória. Ela tem um talento natural para a gravação, edita seus próprios vídeos com facilidade, cria roteiros e tem uma infinidade de ideias para seus projetos. Devido à pouca idade, eu me impressiono com os insights que ela têm”, afirma Lucimara.