Traumas “invisíveis”
“As consequências podem se manifestar em forma de doença física, mental ou emocional, além da compulsão em repetir os mesmos erros e sofrimentos, até que o trauma seja resolvido”. Ana Morari
Eles são os mais perigosos!
Alguns traumas deixam marcas visíveis no corpo. Porém, outros não podem ser vistos, mesmo que sejam igualmente dolorosos e causem o mesmo impacto na vida de quem sofre. Estudos explicam que é no inconsciente que o ser humano registra tudo o que acontece, desde o seu nascimento. E é exatamente neste lugar que ficam escondidos muitos traumas carregados ao longo da vida.
Ana Morari, 45, é coach e terapeuta especialista em Saúde Mental e Emocional desde 2016. Ela explica que o nosso inconsciente trabalha sob algumas regras, e uma delas é a “busca pela felicidade”. “Quando passamos por alguma situação dolorosa, o inconsciente busca processar e entender aquilo que aconteceu. Quando isso não é possível, é como se ele congelasse, travasse naquele evento. Isso é o trauma: algo muito doloroso que aconteceu e que nós não fomos capazes de superar”, conta.
Como tratar o que está escondido?
A profissional, então, alerta para o que precisa ser feito: tratar as marcas emocionais, dolorosas e escondidas no inconsciente. “A única forma de lidar com isso é acessando e reestruturando o inconsciente, reprocessando todas as marcas e traumas. Um processo terapêutico que gera crescimento e amadurecimento do psiquismo e a liberação da dor mental e emocional”.
Ana também explica que, para o inconsciente, não existe passado e nem futuro. Tudo está acontecendo agora. “Mesmo que você tenha passado por um trauma aos 5 anos de idade, por abusos físicos ou psicológicos, perdas, lutos, acidentes e abandonos, a dor guardada no inconsciente segue deixando consequências ao longo de toda a vida, mesmo que você não se lembre do que sofreu”, destaca.
Ciclo vicioso
Como muitos traumas não são perceptíveis em um primeiro momento, é fundamental investigar a origem das consequências manifestadas. Como exemplo, a terapeuta faz uma relação com a mente de uma criança. “Ela não entende a ausência dos pais que saem para trabalhar e a deixa com outros responsáveis. Ela registra e interpreta o evento com a sensação de desproteção, desamparo, abandono, medo e insegurança. Esta criança, então, cresce e passa a ser um adulto que procura, sem consciência disso, ter experiências semelhantes às da infância para que agora tenha recursos para entender e resolver”, afirma.
E assim se criam ações repetitivas. Sem querer, a pessoa se encontra constantemente em situações e relacionamentos em que se sente rejeitada e insegura. “Ela terá comportamentos compulsivos para preencher a falta, e não saberá de onde vem essa sensação. A criança cresce e tem o que chamamos de amadurecimento cronológico. Ou seja, ela amadurece apenas na idade, mas seu psiquismo, sua maturidade psicológica e emocional, fica congelado naquele evento em que teve a sensação de abandono”, explica.
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