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Reportagens Edição 176 - Março de 2023

O despertar da adolescência


Letícia é autêntica e está sempre por dentro do que é novidade no momento em redes sociais como o TikTok e o Instagram. “Gosto de aprender as coreografias, ir aos aniversários das minhas amigas e nas festas da turma. Meu sonho é ser modelo ou uma artista

Desafios que afloram com a chegada da juventude 

 

 

Em 21 de março, celebra-se o Dia Mundial da Síndrome de Down. A data serve como uma conscientização global sobre o tema, com foco na garantia das oportunidades para as pessoas que têm a síndrome.  

 

“A vida com a Letícia é uma constante evolução, não somente pra ela, mas pra gente também. Costumamos dizer que ela pode alcançar tudo o que almeja, apenas temos que ter paciência, entender o tempo dela e continuar incentivando seu crescimento, tanto pessoal quanto profissional”. Família da Letícia  

 

Acompanhar o crescimento dos filhos é um caminho cheio de descobertas. E elas chegam a todo instante, ressignificando cada nova fase alcançada. O despertar da adolescência é, sem dúvida, um dos momentos mais desafiadores para a família, especialmente em razão das mudanças – no corpo e no comportamento – que os jovens passam a se deparar.  

 

Letícia Peixoto Xavier Rodrigues tem 17 anos e está vivendo justamente essa fase. Ela cursa o terceiro ano do ensino médio e tem síndrome de Down, condição que torna ainda mais especial o seu processo de autonomia e amadurecimento. Como acontece com todo adolescente, é preciso respeitar o tempo e os limites de cada um e, gradativamente, ir aumentando os seus compromissos e responsabilidades. 

 

Os pais de Letícia, Elenice Peixoto Xavier, 63, professora aposentada, e Ricardo Antônio Maydana Rodrigues, 65, corretor de imóveis, contam que a insegurança por parte da família é natural, pois, além das particularidades que a adolescência proporciona, existe, também, a preocupação por conta da síndrome.  

“Não é só em relação ao entendimento da Letícia com as coisas que acontecem a sua volta, mas, também, com o comportamento das outras pessoas, algumas mal-intencionadas, outras despreparadas e desrespeitosas. Embora ela não entenda o preconceito, ela sente a rejeição, o tratamento diferenciado e, muitas vezes, infantilizado”, contam.  

 

Para encarar esse momento da vida com mais facilidade, Letícia conta com o apoio incondicional dos familiares e com acompanhamento psicológico, que a ajuda na compreensão das transformações que acontecem com a passagem de cada fase da vida.  

 

 

Um passo de cada vez 

A família conta que, desde muito pequena, Letícia já tinha sua independência estimulada. “Na infância, ela ia brincar na casa das colegas e, agora, já adolescente, vai passear com as amigas em cafeterias, sorveterias e festas do colégio. Acreditamos que o cuidado excessivo possa prejudicar a sua autonomia, então, a gente procura respeitar as vontades dela, mas sempre com responsabilidade”. 

 

Os irmãos, Maura Peixoto Xavier Rodrigues, 30, advogada, e Rodolfo Peixoto Xavier Rodrigues, 34, militar, que já passaram pela fase que a irmã vive hoje, afirmam que ela também tem os seus momentos de rebeldia – característicos da adolescência. “Às vezes, ela acha que sabe tudo e que tem todas as respostas para o mundo. Dizemos isso para esclarecer que, assim como a maioria dos adolescentes, a Letícia custa a nos ouvir. Claro que, somado aos desafios comuns da idade, entram algumas questões particulares”, explicam.  

 

Em razão da síndrome, Letícia apresenta alguns atrasos intelectuais, o que dificulta a compreensão de determinadas coisas. “Ela já manifesta interesse em namorar, por exemplo, mas acreditamos que ela ainda não entenda muito bem a dinâmica de um relacionamento. Nas novelas e filmes, ela vê que se apaixonar é rápido e fácil, então, quando se interessa por alguém, acha que esse sentimento vai ser facilmente correspondido. Nesse aspecto, enquanto família, a gente conversa muito com ela”, afirmam. 

 

 

Letícia é autêntica e está sempre por dentro do que é novidade no momento em redes sociais como o TikTok e o Instagram. “Gosto de aprender as coreografias, ir aos aniversários das minhas amigas e nas festas da turma. Meu sonho é ser modelo ou uma artista famosa”, conta. 

 

 

Afinidade com as câmeras 

Segundo os familiares, Letícia sempre foi muito comunicativa e espontânea. Então, não demorou muito para que ela também quisesse fazer parte do mundo digital, onde todos os seus amigos e colegas já estavam – claro, com o cuidado e o monitoramento da família. 

 

 

“Ela queria ter um canal no YouTube. Não sabíamos como fazer, então, sugerimos um perfil no Instagram, onde ela mesma faz as postagens. Foi por meio dessa rede social que ela foi procurada pela Agência de Modelos Dilson Stein. Hoje, ela faz parte do casting dessa agência, integrando o chamado ‘mercado democrático’, o qual ainda está em expansão e não tem muita demanda. Ainda não surgiram trabalhos, mas, com frequência, ela nos pergunta como anda a carreira de modelo”.  






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