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Reportagens Edição 02 - JUNHO/2007

De bem com o dinheiro


Assim como o corpo humano adoece, as finanças também. Por isso, é importante uma educação financeira para evitar dívidas e surpresas desagradáveis. Para administrar as finanças é preciso organização e planejamento. Decidir antecipadamente o que deve ser feito para se preparar para o futuro é um bom começo. Assim, constroem-se reservas financeiras e evitam-se surpresas desagradáveis, bem como o acúmulo de dívidas.


Educação Financeira
Para ajudar as pessoas a estabelecerem uma relação mais saudável com o dinheiro existe a educação financeira, que consiste em entender o funcionamento dos produtos e aprender a tomar decisões inteligentes para o uso do dinheiro. "O objetivo primordial dessa educação é fazer com que as pessoas sejam capazes de alcançar a maturidade financeira, que pode ser compreendida como a capacidade de adiar o desejo de agora em função de futuros benefícios", explica Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira e autora dos livros "Educação Financeira: 20 dicas para ajudar você a educar seu filho" e "Educação Financeira: 20 dicas para ajudar você a administrar sua mesada".
Assim como o nosso corpo adoece, as nossas finanças também. Por isso, é importante acompanhar as receitas e despesas. Para o consultor de orçamento familiar e empresarial Rogério Brandt, o grande problema de endividamento acontece porque a maioria dos consumidores ainda não se habituou com as despesas modernas, como internet, telefones móveis e sistemas de segurança. "Na verdade temos cada vez mais novas despesas e o salário não cresce para acompanhar os gastos", comenta. Segundo Brandt a receita para manter um equilíbrio nas contas está em se disciplinar.
"Muitas vezes o consumidor acha que não pode esperar para realizar a compra e como as promoções são tentadoras acaba parcelando. O que pouca gente compreende é que se disciplinar os gastos juntará a quantia para pagar à vista em bem menos tempo do que se pagas-    se parcelado", observa.
O consultor orienta que antes de comprar é preciso questionar a real necessidade do que se está adquirindo. Em que posso reduzir despesas? Estou disposto a mudar algum comportamento inadequado? Posso diminuir despesas com telefone fixo ou celular? Posso reduzir o número de vezes que vou a restaurantes com os amigos? Posso reduzir as despesas pessoais? "Quando a pessoa se conscientiza dessa necessidade de ter que gastar menos ela acaba se habituando ao novo orçamento e dificilmente voltará a se endividar", ensina Brandt.


Educando as crianças
A educação financeira voltada para crianças é um tema de discussão na atualidade. É importante que elas aprendam, desde cedo, a importância do dinheiro e de sua administração para poderem planejar melhor o futuro. Em Cachoeira do Sul, o Colégio Barão do Rio Branco é uma das instituições de ensino que acrescentaram a educação financeira em seu currículo. Através de um projeto implantado em 2005 os estudantes da primeira série do ensino fundamental até o terceiro ano do ensino médio participam de palestras, aulas e estudos sobre o tema.
De acordo com a coordenadora da proposta, Daiana Grings Treichel, os alunos trabalham a análise de custos e juros, através de jogos e simulações do cotidiano. "Trabalhamos com diferentes enfoques dependendo do nível do aluno. Na segunda série do ensino fundamental, por exemplo, montamos uma lojinha de sucatas para ensinar as primeiras noções de custos, lucros e juros. Já no ensino médio ensinamos a importância do controle de gastos de acordo com a renda", comenta Daiana. A pequena Luiza Noronha, 10 anos, estudante da quarta série é uma das alunas do projeto. "Gosto muito desse trabalho, pois estou aprendendo a economizar, inclusive no lanche, para mais tarde comprar outras coisas mais importantes", comenta a menina.

Luiza: educação financeira desde a infância

Acúmulo de dívidas
Embora a educação financeira esteja em fase de difusão, segundo Cássia D'Aquino, muitos nunca ouviram falar sobre o tema e acabam colhendo os amargos frutos de sua má-formação, como o acúmulo de dívidas. "O momento em que a pessoa se dá conta de que não tem controle sobre sua vida financeira e de que não tem uma dívida eventual, mas circunstancial, é preciso se interrogar sobre o que está fazendo de errado, como chegou nessa situação".
"A maneira como lidamos com o dinheiro é construída até os cinco ou seis anos de idade. O que acontece é que depois disso os cidadãos saem repetindo padrões de comportamento que foram aprendidos. Você sabe que não pode fazer dívidas, que deveria ter uma poupança, mas não consegue agir da maneira correta, e continua fazendo bobagens. As pessoas acham que nunca se sufocarão com dívidas. Quando acontece, coloca a culpa na política econômica e até no olho gordo do vizinho. Vale qualquer coisa para desculpar a falta de atenção ao dinheiro, de modo que o problema inicial é reconhecer o porquê daquela situação e tentar se organizar em relação à dívida", explica a especialista.

Solução
Para sair do sufoco, é preciso ter em mente que a situação de endividamento não é definitiva, mas é preciso força de vontade e apoio dos familiares na redução de despesas para sair do sufoco. "O quanto antes a pessoa se der conta que precisa pôr em ordem seu orçamento melhor, pois as dívidas são como uma bola de neve, quanto mais roda maior se torna", comenta o consultor de orçamento familiar e empresarial, Rogério Brandt. "Quando uma pessoa equilibra sua situação financeira, seus rendimentos profissionais e pessoais passam a melhorar e ela ainda aumenta seu poder de consumo".

Veja os principais passos para sair do sufoco:

Analise seu orçamento
Na ponta do lápis, veja quanto você gasta, onde pode cortar ou apertar e descubra quanto sobra. É com esse saldo mensal que você pagará as parcelas da renegociação da dívida. Essa conta precisa ser honesta e realista, pois o sucesso de toda a operação vai depender de você pagar os compromissos assumidos com os credores.

Entenda sua posição
Antes de iniciar qualquer negociação, convença-se disto: dever não é crime e você tem direitos garantidos. Esse é um ponto tão importante que figura no primeiro parágrafo do Código de Defesa do Consumidor. Coagir, ameaçar ou expor a constrangimento o inadimplente é crime contra as relações de consumo e a pena pode ir de três meses a um ano. Nunca se esqueça disso quando estiver reunida com um gerente de banco ou com um advogado de escritório de cobrança.

Negocie em igualdade
O credor tem tanto interesse na negociação quanto você, pois a dívida também o coloca em uma situação complicada. Aproveite esse equilíbrio de forças na hora de procurá-lo. Ao contrário do que possa parecer (que seria dele o direito de ditar a forma de pagamento), cabe a você propor a negociação. Só você sabe quanto e quando poderá pagar. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, as dívidas contraídas podem ter seu prazo de pagamento estendido. Se, por algum motivo, você conseguir antecipar o pagamento de uma dívida parcelada, exija o abatimento proporcional dos juros, correção ou outros acréscimos.

Negocie os juros
O maior vilão das dívidas são os juros altos. Portanto, transforme-os em prioridade na negociação. Procure renegociar um parcelamento com redução dos juros. É possível até pedir estorno dos juros de mora, aqueles cobrados pelo atraso do pagamento. Mesmo que as taxas estejam determinadas por contrato, cuidado com as cobranças abusivas. A proibição constitucional de cobrança acima de 12% ao ano continua valendo.

Conheça sua dívida
Antes de entrar em qualquer negociação, faça questão de que o credor entregue o histórico de sua dívida. Só assim você poderá saber o que compõe o valor final. Não aceite que ele apenas informe o valor a ser pago sem mostrar o que foi acrescido à dívida principal. Com o documento na mão, procure um órgão de defesa do consumidor (ou um profissional de confiança) para ajudá-la a calcular o valor correto. Só então renegocie o pagamento da dívida.

Limpe seu nome
Você não precisa esperar a quitação da dívida para ter seu nome limpo nos serviços de proteção ao crédito. Na hora de assinar o acordo de renegociação, garanta que o credor irá retirar as restrições existentes. É um direito seu.

Afaste os custos incabíveis
Também é um direito seu não arcar com despesas de serviços que o próprio credor contratou, como honorários de advogados e cobrança. Limite-se a pagar o valor principal e os juros correspondentes.





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