Você conhece o Chip da Beleza?
“Efeitos colaterais, como alteração do clitóris e mudança da voz, são comuns entre as mulheres”. Luisa Loreto, ginecologista
Implante tem efeitos irreversíveis e não é aprovado pela Anvisa
Não é de hoje que a busca por fórmulas milagrosas para favorecer a estética faz a cabeça de muita gente. O mercado, inclusive, atualiza-se em um piscar de olhos, sempre com novas técnicas que garantem solucionar qualquer insatisfação com a aparência. A dúvida é saber o que funciona de fato, sem comprometer a saúde de quem se utiliza desses métodos.
Um dos mais populares recentemente, e muito procurado pelas mulheres, é o Chip da Beleza. Um tipo de implante hormonal absorvível, feito de silicone, do tamanho de um palito de fósforo. Ele é implantado no corpo para liberar hormônios e tem a duração aproximada de seis meses. O chip promete melhorar a performance atlética, aumentar o ganho de massa muscular, estimular a libido e favorecer a perda de peso.
O problema é que ainda não existe recomendação para o uso desse tipo de implante, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Os chamados chips da beleza são uma mistura de vários hormônios manipulados sem comprovação de segurança. Sendo assim, não são isentos de efeitos colaterais e também não são removíveis facilmente”, explica Frederico de Quadros da Silva, 32, especialista em Clínica Médica e Doenças Endócrinas.
A ginecologista e obstetra Luisa Loreto, 27, afirma que o famoso chip é uma caixinha de surpresas, pois não possui bula indicando a descrição das substâncias utilizadas, assim, seus efeitos podem ser variados. “Muitas pacientes vêm apresentando sintomas como acne, queda de cabelo, oleosidade da pele, clitoriomegalia (condição em que as mulheres têm o clitóris maior que o normal), elevação do colesterol e, consequentemente, aumento do risco cardiovascular e virilização da voz (tom masculino), esta sendo irreversível”, alerta.
ATENÇÃO
Implantes hormonais não podem ser confundidos com o Implanon, método contraceptivo em forma de bastão, que é inserido sob a pele do antebraço da mulher. Diferentemente do Chip da Beleza, o Implanon é aprovado no Brasil e reconhecido pela Anvisa. Além disso, também existe a terapia de reposição hormonal, amplamente estudada e com diversas indicações seguras e comprovadas para tratar sintomas da menopausa.
“Meu compromisso com as pacientes é explicar detalhadamente os riscos na tentativa de convencê-las a abandonar esse desejo”. Frederico de Quadros da Silva, endocrinologista
Endometriose
Umas das grandes promessas do Chip da Beleza também é ser eficaz no tratamento da endometriose. Mas, de acordo com Frederico, esse “benefício” não é reconhecido como uma opção terapêutica. “A gestrinona, um dos hormônios que compõe este implante, foi estudada para tratamento da endometriose por via oral. Não existem estudos de segurança e eficácia da gestrinona para tratamento de endometriose por meio de implantes”, afirma.
Se é contraindicado, por que têm médicos que recomendam?
Para o especialista, a crescente indicação do chip tem se dado, principalmente, pela propaganda milagrosa, que garante resultados surpreendentes. “É um grande apelo para o público feminino devido à pressão social que sofre. Através desses recursos apelativos, a recomendação desses hormônios se tornou um negócio muito lucrativo”.
Para Luisa, um dos fatores que pode influenciar as mulheres a buscarem o chip é a promessa de aumento da libido. Mas, segundo a médica, raramente os problemas sexuais são tratados com o uso de medicação. “Seria muito mais fácil culpar um hormônio e encontrarmos um remédio para isso. Mas acontece que a libido envolve muitos fatores, como uma boa relação com o parceiro, autoconfiança, tranquilidade financeira, estabilidade nas relações de trabalho, família saudável, dentre tantos outros”, explica.
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