Cachoeirenses no GloboPlay
Cláudio, como é conhecido em Cachoeira, é atuante pelos direitos das pessoas com deficiência e ativista na luta LGBTQIA+
Longa-metragem conta sobre o assassinato de uma trans, em 2016
A participação da cantora e atriz Linn da Quebrada no Big Brother Brasil deste ano trouxe para destaque o debate sobre identidade de gênero. O assunto ganhou ainda mais força depois que outros participantes do reality show usaram pronomes masculinos para se referir a ela. Com isso, surge a dúvida sobre qual é a diferença entre transexuais e travestis. A resposta, no entanto, é bem simples: cada pessoa escolhe, individualmente, a identidade de gênero que quer ter e ser chamada.
Ellen Araújo (na identidade, Cláudio Rodrigo de Araújo Teixeira), 36, consultora em acessibilidade e deficiente visual há 10 anos, viveu uma dessas tristes experiências de discriminação. O que aconteceu com ela, em 2010, mudou os rumos da sua vida. “Barraram minha entrada em uma casa noturna em Cachoeira. Depois, permitiram que eu e uma amiga entrássemos, mas cobraram nossos ingressos duas vezes mais. Como se não bastasse, ainda passei pelo constrangimento de ser obrigada a usar o banheiro masculino, sendo escoltada por um policial. Parecia que eu era uma criminosa”, relata.
Essas e outras situações fizeram com que Ellen decidisse sair da cidade. Ela deixou o emprego, entregou o apartamento onde morava e foi embora para Canoas. Lá, junto da família, teve seus sintomas de depressão acentuados, desenvolveu sinusite crônica e as medicações a levaram a ter meningite - motivo pelo qual Ellen perdeu a visão, em 2011. “Desde então, venho trabalhando com a minha proteção e segurança enquanto mulher trans. Atualmente, em Cachoeira, sou conhecido como Claudinho Teixeira, ativista pelo direito das pessoas com deficiência e também no Coletivo LGBT Nickolle Rocha”.
Um filme premiado no cinema
Ellen Araújo celebrando a premiação do filme, no Festival de Gramado
As tantas experiências vividas, boas e ruins, resultaram na produção do filme cachoeirense “Extermínio”, premiado duas vezes no 49º Festival de Cinema de Gramado, em 2021. A produção concorreu na categoria Longas-Metragens Gaúchos. Dirigido por Mirela Kruel, o filme propõe uma reflexão sobre a vida das mulheres trans a partir de um crime que ocorreu aqui em Cachoeira, em 2016.
O filme conquistou dois Kikitos, prêmio máximo concedido no Festival de Gramado: o de Melhor Montagem, para Joana Bernardes e Mirela Kruel, e o de Melhor Atriz, para Luciana Renatha, Alexia Kobayashi e Veronica Challfom. O filme está disponível desde o início do ano no GloboPlay. “Foi uma honra participar deste elenco, onde pude contar um pouco da minha história e das vivências que me trouxeram até aqui”, diz Ellen.
Oportunidades iguais
“As políticas estão no papel, mas, infelizmente, ainda não ocorrem na prática”. Suelen Moraes
Suelen Moraes, 29, assistente social, hoje mora em Santa Cruz do Sul, onde cursa especialização em Urgência e Emergência. Ela conta que seu processo de descobrimento se deu em razão das experiências que viveu. “Diferentemente da população a qual eu pertenço, eu tive acesso à educação e o apoio da minha família. Isso foi parte muito importante para me tornar quem eu sou hoje”, afirma.
Para ela, frequentar espaços inclusivos faz a diferença na vida de tantas pessoas que têm seus direitos violados diariamente. “Me formei na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), onde tive todo o suporte necessário. Geralmente, pessoas trans são sumariamente excluídas desses espaços privilegiados, principalmente pela violência velada”, relata Suelen.
Fique ligado!
Não é o ideal questionar o gênero das pessoas, mas, na dúvida, é melhor perguntar como tal pessoa se identifica do que errar. Não cabe a ninguém definir a identidade de gênero alheia. Essa é uma decisão pessoal.
EDIÇÃO IMPRESSA
BUSCADOR