Vida na estrada
Giga, como é conhecido, decidiu ir em busca dos pequenos prazeres da vida e tornou-se um viajante
Um aventureiro, uma bike e uma cachorra por aí
Viver a vida sem ter uma parada fixa, desbravando estradas e colecionando experiências é o que faz o Allyson Guttler, 33. Ele tornou-se um cicloviajante em 2018, juntamente com sua fiel amiga de quatro patas, Alegria. Devido à pandemia, eles têm ficado mais tempo em Cachoeira e matam a saudade dos dias de aventuras através dos registros feitos em redes sociais. Assim que ficar seguro para viajar, eles partem de novo, com um novo roteiro.
Qual foi o seu preparo antes de sair em viagem?
“Foram dois anos e meio de preparação, onde estudei muito sobre o que era necessário para fazer uma viagem de longa duração de bicicleta. Precisei achar os equipamentos certos, enxoval e pensar no que seria necessário para a Alegria, minha cachorra. Porém, o mais difícil foi preparar o meu psicológico, pois eu era sedentário”.
Quais países visitou? E qual a duração da viagem?
“Além do Brasil, visitamos o Uruguai, o Paraguai, a Argentina e o Chile. Começamos em 2018 e estacionamos em março de 2020. Em 2020/21, fizemos algumas viagens curtas pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mas a viagem ainda não acabou.
Companheiros inseparáveis, Giga e Alegria cruzam a América Latina, tendo, durante a pandemia, Cachoeira como parada
Quando resolveu se aventurar de bike pela América Latina?
“Em 2015, eu era acadêmico de História, na Ufrgs, e professor contratado em Gravataí. Vivia muito estressado e praticamente morava dentro de ônibus. Nas férias, fiz uma viagem de bicicleta para Florianópolis e fiquei encantado. No caminho, conheci um francês que estava por terminar a volta ao mundo de bike e entendi que era um sonho possível”.
Por que criou o Latindo América?
“É comum entre os cicloviajantes de longa distância batizarem a viagem. Escolhi este nome e criei um perfil no Instagram para registrar tudo. A Alegria teve um papel fundamental nisso, por isso, o nome Latindo, afinal, a meta é cruzar a América Latina com ela. A Alegria me adotou ao aparecer onde eu morava. Ela me conquistou e logo ficou impossível planejar qualquer coisa sem levar ela. Porém, viajar com um cachorro envolve muitas burocracias e complicações, mas a companhia faz valer a pena”.
Qual o momento mais especial?
“Visitar a Cordilheira dos Andes, na Patagônia Argentina. Sentir a neve caindo sobre minha cabeça, encharcado de suor, com temperatura abaixo de 0 Cº, a 1.400 metros de altitude no cume, depois de ter pedalado mais de 7.000 km, foi inesquecível. Fora isso, tudo se tornou único quando entendi quanta diferença algo básico no nosso dia a dia faz durante uma viagem assim. Uma garrafa de água já foi tão especial quanto nadar nu em uma praia deserta. Já chorei ao conseguir tomar banho de caneca em uma casa muito humilde, por exemplo”.
Pensou em desistir em algum momento?
“Sim, quando a Alegria se perdeu em Buenos Aires, entre nove milhões de habitantes. Graças à esperteza dela, nos reencontramos”.
Qual a sua relação com Cachoeira?
“Morei aqui dos 7 aos 12 e depois dos 15 aos 19 anos. Nasci em Porto Alegre, mas parte de mim é cachoeirense. Aqui fiz as amizades mais fundamentais pra ser quem sou. É uma cidade presente na minha vida onde quer que eu ande”.
Quais os planos para o futuro?
“O próximo destino é o Mar Caribe, na região de Cartagena, no norte da Colômbia, fronteira com a Venezuela. Além disso, quero conhecer muitos outros lugares, como o Deserto do Atacama, no Chile, e o Salar de Uyuni, na Bolívia”.
Giga é formado em história e usa as economias para se manter na estrada junto com Alegria
É verdade que sairá um filme sobre vocês?
“Existe um projeto em andamento, em fase de pré-produção, sobre nossas futuras aventuras. Há muito trabalho para ser feito, mas temos muita gente competente envolvida”.
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