Eu faço a diferença para alguém
Pequenos gestos podem transformar Cachoeira
Estender a mão a quem precisa de ajuda. Essa é a principal meta de quem se dispõe a praticar algum tipo de trabalho voluntário em prol de uma pessoa, comunidade ou até mesmo entidade. LINDA foi atrás de quem pratica a solidariedade de forma totalmente anônima, mostrando seu exemplo até mesmo contra a vontade do benfeitor. O resultado são muitas histórias de boa vontade e amor ao próximo. São gestos pequenos, mas que se multiplicados podem transformar a cidade.
Mais do que ajudar quem necessita, o trabalho voluntário preenche a vida de quem o pratica. Acostumado a trabalhar durante toda a vida, Cláudio Rudolph, 65 anos, depois de se aposentar percebeu que precisava ocupar seu tempo com alguma coisa e que as caminhadas, seu único compromisso diário, não estavam preenchendo sua vida. Depois de ler uma reportagem sobre voluntariado, ele decidiu que ajudar outras pessoas seria a melhor maneira de se sentir útil novamente. Desde 2005 ele atua no Hospital de Caridade e Beneficência (HCB) e depois de passar por vários setores, hoje trabalha diariamente das 7h às 10h30min na farmácia interna do hospital.
Cláudio: se não fosse seu trabalho, o HCB precisaria contratar um funcionário
Sua função é etiquetar todos os medicamentos que são usados na casa de saúde. “É uma distração para mim, me sinto realizado porque vejo que estou produzindo alguma coisa”, comenta. De acordo com uma das coordenadoras do movimento voluntário no HCB, Ana Paula Iores Bernardes, se não houvesse sua colaboração voluntária, certamente teria que ser contratado um profissional para a tarefa. “Sei que faço uma coisa simples, mas nem penso em parar. Sei que esse trabalho é importante para eles e muito mais para mim”, comenta o aposentado.
Assim como Cláudio, boa parte dos voluntários só passa a se dedicar a uma tarefa não remunerada depois de se aposentarem. Entretanto, existem também muitas pessoas que mesmo cheias de compromissos, dedicam algumas horas da sua semana a fazer o bem por outras. Esse é o caso da auxiliar administrativa Mônica Weber, 43 anos. Além de cumprir sua jornada diária de trabalho, cursar no turno da noite Técnico em Administração e ainda cuidar da casa e da família, Mônica dedica seu carinho e atenção aos idosos que moram no Asilo Nossa Senhora Medianeira. Entre uma conversa e outra com os amigos conquistados, ela garante que recebe muito mais do que doa. “Saio daqui aliviada. Quando não venho aos domingos parece que minha semana não está começando bem”, conta.
Mônica: mesmo cheia de compromissos, ela não abandona o trabalho voluntário
Além de oferecer seu amor, Mônica lê histórias, leva revistas para que os idosos se distraiam durante a semana e até faz algumas atividades, como cantar e dançar. Há quatro anos ela passa seus domingos e feriados dentro do asilo. Uma das suas amigas, Berenice Bernardes de Carvalho,63, garante que as horas que passam conversando têm o poder de aliviar o coração e até mesmo acalmar suas dores. Mãe de três filhos, Berenice mora há cinco anos na casa geriátrica e lamenta não haver mais pessoas como Mônica para dedicarem um pouco de tempo a quem muitas vezes passa meses e até anos sem receber nenhuma visita. Com seu exemplo, Mônica, que só aceitou falar de seu trabalho para tentar incentivar mais pessoas a fazerem o mesmo, mostra que o que importa é a qualidade e não a quantidade de tempo que é dedicado a fazer o bem pelo próximo. “São poucas horas que passo aqui no asilo, mas se cada um pensasse em fazer um pouco a história de muitos, tanto dos voluntários como de quem é ajudado, poderia ser diferente”, comenta.
Nada pode impedir a solidariedade
Não precisa ter muito dinheiro, nem mesmo tempo para fazer a diferença para uma pessoa ou mesmo para um grupo. Elizabete Rodrigues, 45, prova que basta amor e boa vontade para transformar o dia-a-dia de alguém, no caso dela das 35 crianças atendidas na Escola de Educação Infantil Sonho Encantado, no Bairro Cohab. Tia Bete, como é chamada pelas crianças, há um ano é responsável pelo almoço e lanche dos alunos. Diariamente, ela deixa as tarefas na sua casa de lado para preparar as refeições na creche. “Esse trabalho faz eu me sentir muito bem. Se algum dia não venho parece que fico doente. Não penso em parar, quero ajudar cada vez mais”, conta. Para ela, a maior recompensa de fazer esse trabalho voluntário são os laços de amizade que cria com as crianças. Tímida, Bete leva tão a sério a atividade que já participou de cursos para se aperfeiçoar no preparo das refeições para as crianças.
Elizabete: encontrou uma maneira de ajudar fazendo a merenda das crianças
Idade também não é sinônimo de empecilho para quem tem vontade de ajudar. Aos 82 anos, Elza Trevisan Bartz dedica parte dos seus dias à confecção de mantas para os bebês que nascem na maternidade do HCB. As cobertas feitas com tecido comprado por ela e também por seus familiares são doadas às crianças de famílias humildes e que muitas vezes não possuem uma roupa quente para se aquecerem. Elza faz esse trabalho há 25 anos e mesmo estando com dificuldade para enxergar, ela segue na missão e nem pensa em parar.
“Me dedico a fazer durante todo o ano. No início fazia camisas para os bebês, mas depois percebi que as cobertas poderiam ser muito mais úteis para eles”, comenta. A senhora de rosto alegre nunca apareceu na mídia devido ao seu trabalho e justifica essa escolha. “Caridade não precisa de propaganda. Ninguém precisa saber o que faço, essa é a primeira vez que aceito falar do meu trabalho”, conta. O apoio da família também é fundamental para que ela siga fazendo as mantas. “Ganho o tecido até mesmo como presente de aniversário. Para mim é muito gratificante saber que apesar de pouco, estou fazendo alguma coisa. Que alguém tem dias melhores devido ao meu trabalho”, observa dona Elza. Assim como ela, muitos voluntários oferecem sua ajuda investindo seu dinheiro. Muitos fazem doações mensais ou colaboram quando a entidade solicita, entretanto a maioria que contribui dessa forma se recusa a aparecer em qualquer notícia, sempre alegando que fazem somente por amor.
Elza: cobertas exigem investimento, mas com ajuda de familiares ela trabalha há 25 anos
Conhecimento passado adiante
Repassar o que sabe aos outros somente por amor é a missão que o instrutor de caratê Paulo Roberto Machado, 45, encara pelo menos duas vezes durante a semana. Desde 2003 ele vem desenvolvendo o trabalho voluntário e atualmente atende 56 crianças e adolescentes. “Essa foi a forma que encontrei de fazer um pouco por alguém. Trabalho a parte da disciplina, da auto-estima e também uma forma de canalizar as energias para o bem. Acredito que en-quanto eles estão aqui, estão longe da violência e dos perigos que a rua oferece”, comenta. Paulo, que é faixa preta no esporte, garante que o maior bem em fazer o trabalho vo-luntário se volta para ele mesmo. “Me sinto muito bem enquanto estou ensinando essas crianças que não podem pagar uma academia. Muita gente ajuda com dinheiro, mas quem não pode colaborar dessa forma, pode doar um pouco de seu conhecimento”, observa.
Aos 70 anos, João Antônio Dias dá exemplo de amor à profissão e ao próximo também doando somente tempo e conhecimento. Aposentado como padeiro, ele não pensou duas vezes quando surgiu a proposta de trabalhar na padaria do Asilo Nossa Senhora Medianeira. “Já trabalhava como voluntário na fábrica de fraldas do asilo quando comecei a atuar na padaria. Ajudei a estruturar tu-do, já que tinha muita coisa estragada e há dois anos sou responsável por todo o pão que os moradores da casa consomem”, orgulha-se. O trabalho voluntário se tornou tão importante em sua vida que seu Negrinho, como é conhecido na casa geriátrica, se emociona ao falar sobre sua motivação para ir três vezes por semana fazer os pães. “Faço por amor. Isso se tornou um compromisso e além de tudo fiz muitas amizades aqui”, observa.
Paulo: aulas de caratê para 56 crianças e adolescentes que não podem pagar por uma academia
João: experiência como padeiro faz a diferença para os moradores do asilo
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