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Reportagens Edição 152 - dezembro de 2020

Eles deram a virada!


Jader Surceda da Silva, publicitário: destaque na arte e na música

Histórias inspiradoras de personalidades negras em Cachoeira

 

A história do Brasil e do mundo foi e é construída pela força do povo negro. Embora renegada e até apagada, a luta e resistência do negro firmou a sua marca na política, no ativismo, na música, no esporte, no cinema e na literatura.

A LINDA valoriza histórias inspiradoras de personalidades negras que deixaram sua marca na cidade. São homens e mulheres que se orgulham de sua cor e que tiveram a coragem de mudar o curso de suas vidas.

 
PRODUTOR CULTURAL
Artista multitalentoso e funcionário público concursado na Prefeitura Municipal, JADER FABRÍCIO SURCEDA DA SILVA, é publicitário graduado pela Unisc há 12 anos. Envolvido em atividades culturais em Cachoeira, bem como no Carnaval, Jader é cantor e instrumentista (toca violino e teclado). É presença musical em cerimônias e eventos. “Sempre recebi e ainda recebo o incentivo de meus pais para o estudo”, diz ele.
 
DESTAQUE MUSICAL 
Entre seus principais títulos estão de vencedor (dupla) com Júlio Machado na etapa regional do festival de música de Santa Maria e finalista estadual, em Porto Alegre. Melhor Intérprete Vocal do VII Musiroque, do Colégio Marista Roque, Melhor Instrumentista no 2º Canto Pioneiro, do CTG Tropeiros da Lealdade, 1º Lugar no concurso de Nova Identidade Visual do Clube Cultural Beneficente União Independente - CBBUI, e Troféu Destaque em Expressão Cultural na 47ª e 51º Noite dos Destaques do Jornal do Povo.
 
Atuando no Núcleo Municipal da Cultura e Atelier Livre Municipal, desenvolve trabalhos administrativos e materiais gráficos como os da 35ª Feira do Livro de Cachoeira do Sul, Jornada do Patrimônio Cultural, 28ª Vigília do Canto Gaúcho e 50ª Semana de Cachoeira do Sul, tendo contribuído na execução de projetos na Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (COMPPPIR).
 
DONA DA SUA HISTÓRIA
 
 
Nilda Alonso, cabelereira e psicóloga, tem como lema a frase de Nietzsche: “Quem tem um porquê, enfrenta todo e qualquer obstáculo”
 
Natural de Muriaé, Minas Gerais, NILDA ALONSO, 66, chegou em Cachoeira há 20 anos, após se libertar de um relacionamento tóxico abusivo de 25 anos, como descreve. “Vi em meus filhos os meus maiores motivos para criar uma nova realidade. Escolhi Cachoeira por ser a cidade onde minha filha estava instalada – a dois mil quilômetros da minha”, conta.

EMPRESÁRIA E PSICÓLOGA 
 
Almejando mudar a sua realidade e de sua família, Nilda adotou uma rotina diária de trabalho e estudo. “Encarei o colégio e fui superando cada dificuldade até receber o grau de psicóloga. Para arcar com as despesas, também costurei por algum tempo. E deu tudo certo. Hoje atendo no consultório e sigo estudando e me aperfeiçoando”, diz ela, que atua há mais de duas décadas como cabeleireira também.
 
TRANSFORMANDO REALIDADES
 
 
“A educação de qualidade é a principal arma para combater as desigualdades”, fala a professora Gisele da Luz
 
Professora de Língua Portuguesa no município e de Literatura e Língua Portuguesa no estado, GISELE ALMEIDA DA LUZ, 31, tem uma longa trajetória na educação. De uma infância simples no Bairro Barcelos, Gisele é mestre em Letras e Estudos Literários na UFSM/Santa Maria.
“Cresci com a ideia de que deveria estudar e sempre dar meu melhor em tudo o que fizesse. Vi poucos negros em minha busca profissional. Na licenciatura eu era a única negra da turma, na especialização e mestrado também”, destaca.
 
JP NA SALA DE AULA 
 
Participante do projeto JP/CRE na Sala de Aula – uma parceria entre a 24ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e o Jornal do Povo, que leva uma edição mensal do periódico para as salas de aula da região –, a professora valoriza a importância da educação na transformação social, visando o combate ao racismo e às desigualdades.
 
 
JOVEM LÍDER
 
 
Taiana da Silva, maquiadora e empresária: “Minha trajetória tem sido de eterno aprendizado”
 
“Sou negra, quilombola, empreendedora e protagonista da minha história”. Assim se define a maquiadora e manicure Taiana Trindade da Silva, 26. De origem humilde, estudante das escolas públicas Augusto Vitor Costa e Antônio José Lopes Jardim, em Caçapava do Sul, morou até os quatro anos de idade em Cachoeira, indo para a localidade do Cambará, a qual faz parte da comunidade quilombola – o quilombo, local de refúgio dos africanos e seus descendentes escravos.
 
Durante a infância, Taiana e sua irmã Vitória, de 17 anos, eram mantidas pela mãe, Tânia, dentro das condições que conseguia possibilitar através de seu trabalho como empregada doméstica. Contudo, a situação não era favorável, e as irmãs foram para o interior para serem criadas pelos avós maternos.
 
CHEFE DE FAMÍLIA 
 
Aos 21 anos, Taiana assumiu as despesas da família, atuando como atendente em uma loja. Em 2019 ela teve que enfrentar o falecimento de sua mãe. Assim, assumiu o papel de mãe de criação de Vitória. “Decidi que tinha duas opções: sentar, chorar e virar vítima da situação ou arregaçar as mangas e seguir em frente. E foi o que eu fiz”, conta.
 
EMPREENDEDORA 
 
Para garantir o seu sustento e de sua irmã, Taiana investiu em cursos profissionalizantes na área da beleza, trabalhando como maquiadora autônoma e consultora Mary Kay e Natura. Juntas, começaram a produzir doces e salgados, criando uma marca – Caseirinhos da Vih –, com vendas on-line e porta a porta.
 
 
VENCENDO PELA EDUCAÇÃO
Daniel Costa, jornalista: “Através da minha profissão, busco dar visibilidade aos negros e desfavorecidos”
 
Primeiro bolsista integral do país formado em três cursos ao mesmo tempo, DANIEL KAUAN DOS SANTOS COSTA, 25, é bacharel em Jornalismo, Publicidade e Propaganda e tecnólogo em fotografia pela Unifacvest, em Lages, Santa Catarina. Pós-graduando em Gestão e Desenvolvimento Rural pela Uergs/Cachoeira, atua em assessoria de comunicação pública desde 2017.
 
 “Foi na educação que encontrei destaque e a possibilidade de transformar a minha vida. O esforço resultou na aprovação com bolsa integral no curso de Direito da Ulbra/Cachoeira e em outros cinco cursos de oito instituições”, conta.
 
FILHO ADOTIVO 
 
Natural de Caçapava do Sul, o jovem foi adotado por uma família em Cachoeira, onde passou a viver desde os três meses de idade. Ele é o caçula da casa que tem seis irmãos – sendo dois deles também adotivos –, tornando-se órfão de pai aos 11 anos.
 
“Apesar da falta de estrutura e referência familiar, dos conflitos raciais e da vida simples, comigo o vitimismo não teve vez. Fiz da desvantagem social, dos olhares e palavras de desconfiança a principal motivação para superar dificuldades, aprender e realizar objetivos”.
 

TRAJETÓRIA DE SUPERAÇÃO
 
Claudionor da Silva: “Sonho com um sociedade aberta e inclusiva para todos”
 
“Fiz questão de vir, de ser visibilizado e firmar este espaço. Assim que deve ser”. Foi o que disse Claudionor Carvalho da Silva, 47, logo no início da entrevista para a reportagem. Ele é fiscal e representante comercial da Garra Sistemas de Segurança, onde começou como guarda, há sete anos. Silva já atuou em várias áreas, como motoboy e consultor de vendas. “De origem humilde, venci pelo trabalho, por esforços próprios, sem pisar em ninguém”, diz.
 
Levando a vida com um sorriso no rosto, Silva, que tem como inspiração Barack Obama (ex-presidente dos Estados Unidos), se orgulha de ser bem quisto nos círculos sociais, formando amizades com pessoas de todas as classes. “Todo mundo é igual, temos direitos iguais e merecemos o pleno respeito da sociedade”, frisa ele, que é casado com Maria Machado da Silva, 42, dona do lar, e pai de três filhos e um enteado, com idades entre 13 e 23 anos.
 
CASO JOÃO ALBERTO 
 
Sobre o recente episódio do assassinato de um homem negro em um supermercado em Porto Alegre, Silva chama atenção para o estímulo do ódio no país e comenta o total despreparo e a abordagem errônea durante esse ato que tomou repercussão nacional e internacional e que está sob investigação. 
 
“Para atuar nesse meio, precisamos estar bem psicologicamente, sem trazer questões pessoais que podem influenciar no trabalho, como agir motivado pela raiva, por exemplo. Sempre procuro estabelecer uma abordagem com base no diálogo, evitando o emprego de força. Com uma simples conversa, conseguimos resolver muitas situações e evitar conflitos”, enfatiza.  
 
VIOLÊNCIA ‘INVISÍVEL’ 
 
Referindo-se ao preconceito e à discriminação presentes no cotidiano, Silva destaca discursos e práticas de violência ditos “invisíveis”, mas que deixam marcas e necessitam de uma maior conscientização. “Uma vez estava andando em um carro melhor, e logo começaram a me questionar se eu era mesmo o proprietário, se não era do meu chefe e qual a procedência do mesmo. Por que eu não poderia andar em um carro bom?!”, reflete ele. 
 
No final de novembro, a cantora Gaby Amarantos dividiu uma história semelhante no programa Saia Justa, no canal GNT, em que contratou um carro de luxo em um aplicativo de transporte, e o motorista passou pela mesma sem sequer olhá-la e cogitar que ela seria a passageira, indo direto em uma mulher branca que estava parada mais à frente. 





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