“Ele nos completa por inteiro. É o que chamamos de felicidade plena”, dizem Edson e Cristina Salomão, ao lado do filho João Vitor
As alegrias e dores de ter e ser filho único
Pais de filhos únicos já devem ter ouvido, ao menos uma vez na vida, frases do tipo: “E o próximo é para quando?”, “Não vai dar um irmãozinho para ele?” e “Ele vai ficar mimado, muito sozinho, etc.”. Contudo, a realidade é outra: famílias pequenas, compostas por filhos únicos, estão crescendo. Segundo o IBGE, em sua Síntese de Indicadores Sociais 2015, a taxa de fecundidade passou de 2,14 filhos por mulher, em 2004, para 1,74, em 2014, no Brasil.
São muitos os pontos que contribuem para esta configuração, como fatores econômicos, maior acesso à informação sobre os métodos contraceptivos e o aumento da escolaridade da mulher jovem. E, conforme mais comuns se tornam as famílias formadas por três membros, estereótipos e mitos são rompidos, como, por exemplo, compreender o papel da mulher contemporânea para além da maternidade e de que filhos únicos podem se tornar adultos tão ou mais bem formados e saudáveis do que aqueles que crescem em grandes famílias.
Para entender as vantagens e implicações de se ter ou de ser um só, os desafios e os valores da paternidade, a revista Linda conversou com quatro famílias, que compartilham suas histórias e experiências. A psicóloga Sanny Azambuja esclarece questões importantes que nutrem a família e suas diferentes estruturas e o amor manifestado de inúmeras formas.
NOVO SENTIDO À VIDA
No auge dos 40 anos de idade, o casal Edson Luiz Salomão, médico veterinário, e Cristina Engler Salomão, administradora de empresas, optou por ter o seu primeiro filho. Hoje, Salomão, aos 66 anos, e Cristina, aos 64, são só elogios a João Vitor, de 23 anos, acadêmico de Direito. “Temos muito orgulho pelo ser humano que formamos”.
Segundo eles, a paternidade lhes presenteou com um novo sentido à vida: “Nos tornou pessoas mais responsáveis e nos deu um grande impulso para podermos transmitir bons exemplos que iriam colaborar e muito na formação do caráter do nosso filho. Nos motiva a sermos sempre melhores a cada dia”.
Para João Vitor, a experiência de ser filho único é positiva. “Para suprir uma eventual falta que um irmão poderia fazer, sempre considerei meus primos e amigos próximos como irmãos, dividindo com eles todos os momentos mais importantes da minha vida”, diz.
DOAÇÃO INTEGRAL
Ter um filho único, ou melhor, uma filha, sempre esteve nos sonhos de Inar de Castro Bulsing, bordadeira profissional, 52, e Gilmar Scherer Bulsing, 56, representante comercial. Bruna, 28, graduada em Arquitetura e Urbanismo, é fruto deste relacionamento de mais de três décadas. “Desde os tempos de namoro pensamos que, com um único filho, poderíamos dar uma melhor qualidade nos estudos e uma melhor atenção com relação à criação e educação”.
Para o casal, a experiência de ter um filho único é desafiadora, pois a cobrança é unânime quando se trata da formação de um ser humano: “Sempre preservamos o cuidado em não torná-la ‘mimada’, tratando-a como adulta. Por isso a deixamos a par de todas as dificuldades da nossa vida, que tudo tem seu tempo, que as coisas não são fáceis e saber ouvir e dividir”.
Assim, Bruna sente-se realizada e confessa que nunca sentiu a necessidade de pedir um irmão. “Sempre fui autossuficiente e nunca tive essa carência neste quesito. Gosto desta parceria integral com meus pais e me sinto completa na família sendo somente eu de filha”, diz ela, que, por outro lado, destaca a responsabilidade de ser foco de total preocupação, zelo e cobrança. “Tudo seria dividido se tivesse irmãos, mas tudo na vida tem seu lado positivo e negativo”.
Inar e Gilmar Bulsing: “A amizade e parceria são o ponto-chave da nossa relação”, junto de Bruna em foto na sua formatura
PARCEIRA PARA A VIDA
“Sempre soube que teria uma menina e que iria chamar-se Luiza”, diz Amanda Paz, 46, mãe de Luiza Paz Gressler, 22. Juntas, elas formam uma família e dividem a mesma profissão, de serventuária extrajudicial. “Agradeço sempre por ser mãe de uma pessoa incrível e não me arrependo de ter ficado somente com ela, pois nesse tempo amadurecemos juntas e aprendemos todos os dias alguma coisa que nos faz crescer como ser humano”.
Luiza, por sua vez, afirma que ser filha única nunca foi um problema: “Cresci na companhia de uma prima da mesma idade, então isso completou a falta de um irmão. Minha mãe e eu temos uma relação bem sólida, conversamos sobre todos os assuntos. Sou muito feliz e sei que tenho uma amiga que posso contar em todas as horas”.
“Quando ela chegou tive a certeza que seria única”, fala Amanda Paz, ao lado de Luiza
FORA DO NINHO
Com a paternidade, Maria Aparecida Alves Anversa (Cida), 59, funcionária pública, e Fernando Anversa, 60, profissional autônomo, conheceram o contraponto de um mundo mais colorido e desafiador. Sua filha é a Laura, de 30 anos.
“Queríamos muito ser pais. O ponto sempre foi educar pelo exemplo. Precisamos amar e não mimar além, sermos afetivos sem ser ‘babões’, estarmos presentes sem supervalorizar – ‘Tem que ser a melhor’, ‘é a mais’, não! – e acompanhar sem sufocar. É um desafio diário”.
“Hoje nosso ninho vazio. Mas estamos felizes por ela, de sair, enfrentar desafios, ter independência...”, completam. Atualmente, Laura reside em São Gabriel, onde é servidora concursada. “Como filho único, temos que saber lidar com o foco e suprir as expectativas. Já senti a falta de um irmão, mais quando criança do que hoje”, comenta ela.
“Estamos sempre na torcida”. Cida Anversa e Fernando Anversa, com Laura
PALAVRA DE
ESPECIALISTA
Sanny Azambuja, 28, psicóloga, com cinco anos de atuação /Joice Bernardi
"A base para uma família com um único filho ser bem-sucedida e feliz é a disciplina. Dosar os cuidados e permitir que o filho se desenvolva em um ambiente feliz, mas de autoridade, é fundamental. Esse tipo de postura é auxiliar não somente para o desenvolvimento da criança, mas também para a calmaria dos pais quando este filho se tornar um adulto”.