Psiquiatra fala sobre conscientização e prevenção do suicídio
Por preconceito e exclusão, falar sobre saúde mental ainda é um tema tabu. Considerado um grave problema de saúde pública mundial, o suicídio cresce de forma alarmante no Brasil: se estima que ocorra um caso a cada 46 minutos. De 2000 a 2016, as taxas de suicídio aumentaram 73% (11 mil mortes por ano), segundo dados do Ministério da Saúde. Essa já é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, sendo a terceira para homens nesse grupo e a oitava entre as mulheres. Idosos acima de 70 anos detêm a maior taxa.
No mês de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo, o médico psiquiatra HENRIQUE DO NASCIMENTO NETO, 31, com dois anos de atuação em Cachoeira e Santa Cruz do Sul, reforça os principais sinais de alerta e como preveni-lo.
OS MOTIVOS
Transtornos psiquiátricos como depressão, transtorno de humor bipolar, transtorno de personalidade, esquizofrenia e dependência química (álcool, cocaína, crack, etc.) estão entre as patologias que apresentam alto índice de risco de suicídio.
“Além de questões diagnosticáveis, o que parece estar comumente relacionado entre as pessoas com risco de suicídio são o sentimento de desesperança, a falta de perspectiva de resolução de seu sofrimento, o sentimento de solidão e a exaustão mental e emocional”, salienta Henrique.
SINAL AMARELO
Como identificar comportamentos suicidas
Manifestações verbais – Falar explicitamente em querer morrer ou tirar a própria vida, querer desaparecer, dormir e não acordar mais e/ou desejar estar morto
Humor – Depressão, tristeza extrema, raiva, perda de interesse ou prazer, desesperança
Comportamento – Pesquisa de formas de cometer o suicídio (na internet, por exemplo), isolamento da família e amigos, ações imprudentes, aumento do consumo de álcool ou outras drogas, escrever cartas de despedida e/ou testamentos, despedir-se de amigos e doar bens valiosos, autoagressões/mutilações...
SOBRE HENRIQUE NETO
Formado em medicina pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), possui residência médica em psiquiatria pela Associação de Caridade Santa Casa do Rio Grande.
IMPORTANTE
Esses são sintomas comuns, mas não necessariamente as pessoas passam por todos eles – a presença de apenas um deles já é um sinal de alerta, como salienta o psiquiatra: “Culturalmente, é comum escutarmos ‘quem quer se matar não fala’, e isso é a maior inverdade de todas. Quem quer se matar geralmente fala ou demonstra algum tipo de sinal”.
“Precisamos escutar essas pessoas, perceber esses sinais e agir com a seriedade necessária, bem como auxiliá-las a buscar ajuda e tratamento adequado, trazendo, assim, um novo olhar sobre a vida e a vontade de prosseguir”, finaliza.
TRATAMENTO
O suicídio é a situação mais grave na psiquiatria, e com esse grau de severidade é tratado. “Inicialmente se busca a estabilização e a manutenção clínica. E é essa manutenção da estabilidade que resultará na melhora completa do quadro”, explica o psiquiatra.
“Uma parcela dos pacientes consegue evoluir para a alta completa sem medicação, mas uma outra talvez precise de medicação de uso contínuo para evitar recaídas. Muitas vezes o tratamento é longo, mas determinante na ressignificação da vida do indivíduo”, frisa.
Além da psicoterapia, se utilizam psicofármacos como antidepressivos, estabilizadores de humor, antipsicóticos e ansiolíticos.
COMO REAGIR
O paciente suicida, muitas vezes, precisa ser submetido a internação (hospitalar ou domiciliar) e necessita de adequado suporte familiar, destaca Henrique: “Em caso de uma tentativa já efetuada, chamar o Samu ou buscar o pronto-socorro mais próximo imediatamente. Pessoas com risco de suicídio devem estar sob vigilância constante da família e passar por uma avaliação profissional de um psiquiatra ou psicólogo o mais breve possível”.
A SITUAÇÃO NO RS
A epidemia é ainda mais grave quando pensamos no Rio Grande do Sul, conforme destaca o médico psiquiatra: “Enquanto no Brasil, 5,1 pessoas a cada 100 mil cometem suicídio ao ano, no estado são 9,7”.
DISQUE 188
O Centro de Valorização da Vida (CVV) recebe ligações de pacientes em crise durante 24 horas, sem custo, pelo telefone 188. Também é possível contato pelo chat através do site
cvv.org.br.
"O diagnóstico correto e o tratamento adequado são o cerne da melhora clínica do paciente”.
Henrique Neto, médico psiquiatra