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Reportagens Edição 138 - agosto de 2019

Mãe que também é pai


Itiane exerce as duas funções e arrasa

 

 

“Hoje somos uma família. Olho e sinto que foi meu melhor projeto de vida”, diz Itiane Vargas, ao lado de Bruno


 

Você sabia que existem 67 milhões de mães no Brasil e 31% (20 milhões) são mães solo, segundo o instituto Data Popular? E que mais de 40% dos lares brasileiros (cerca de 28,9 milhões) são comandados por mulheres, segundo o censo do IBGE de 2015? Vale lembrar que 5,5 milhões de crianças não têm nome do pai no registro, conforme o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ser mãe solo é uma experiência mais desafiadora, e a história a seguir tem muito a dizer sobre isso.

 
CONSTRUIR JUNTOS

Aos 15 anos de idade, a enfermeira ITIANE OTTES VARGAS, 37, tornou-se mãe de Bruno Vargas, 21, cabeleireiro, barbeiro e empresário do ramo. Mãe solo, Itiane enfrentou uma gravidez não planejada, mas acolhida e desejada desde seu descobrimento: “Com a maternidade na adolescência, abri mão de muitas coisas, mas tive muito apoio da minha mãe, Maria do Rosário, e dos demais membros da família. Comecei a trabalhar cedo e consegui concluir meus estudos, sempre no propósito de assegurar a ele o que fosse necessário sem abrir mão de educá-lo e estar presente”.
 
Sobre as dificuldades de assumir esse duplo papel, Itiane afirma que o maior desafio é a tomada de decisões individualmente: “O que acarreta maior preocupação quanto ao sucesso ou não para tornar o filho uma boa pessoa. Eu amadureci na mesma intensidade do amadurecimento dele”, conta ela.
 

ADMIRAÇÃO MÚTUA 

“Hoje meu filho é meu maior incentivador, pois sabe das dificuldades que enfrentei. Sempre busquei um vínculo baseado em afeto e verdades. Tenho orgulho do ser humano que ele se tornou. Olho para o lado e afirmo: foi o melhor que poderia ter acontecido na minha vida”, fala Itiane.
 
 E Bruno também tem a maior admiração pela mãe: “Vejo minha mãe como uma mulher guerreira, que representa muito bem a força feminina. Desde muito cedo teve a responsabilidade de ter um filho e criá-lo, e sempre me deu o que eu precisei. É a ela que devo minha educação e gratidão por nunca ter me faltado base pra ser quem sou hoje”, diz ele.
 
 “O índice de abandono paternal é muito alto. Torço para que esse número caia cada vez mais e que os homens assumam sua responsabilidade na família”, finaliza.  
 
 
 
MÃE SOLO OU SOLTEIRA? 
 
Maternidade não tem nada a ver com estado civil. O termo mãe solo ganhou popularidade por designar de forma apropriada mães que são as principais ou as únicas responsáveis pelos filhos.
 
 
 
PALAVRA DE ESPECIALISTA

“O conceito de paternidade é construído através do convívio e reconhecimento dos filhos. Adotar uma visão de família baseada em padrões tradicionais (aquela composta por pai, mãe e filhos) não deve ser visto como um padrão a ser seguido. Todas as configurações familiares são válidas, sendo mais importante o olhar sobre a potencialidade de todos os membros e a transmissão de seus valores. Portanto, pode-se afirmar que em qualquer ambiente familiar, o importante é a forma como as pessoas ali estabelecidas convivem, não destacando somente a falta física daquele que já não mais faz parte do grupo.
 
Muitas mulheres se tornam mães solo na presença ou ausência de um homem. Talvez o maior conflito seja a sobrecarga da mulher que assume várias tarefas sozinha, por isso é muito importante uma rede de apoio, seja da própria família ou de amigos, para que assim essa mãe possa promover uma troca contínua com seu(s) filho(s). Ter um olhar empático da realidade destas mães, tanto pela sociedade quanto pelas políticas públicas, é um dever, e é um direito de todas as mulheres, pois superam as condições de vulnerabilidade na construção e criação de suas famílias”. 
Caroline Camargo Vargas, 29, psicóloga clínica atuante na Clas Psicologia





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