Novos moradores de Cachoeira
Cidade atrai estudantes de todo o país e do exterior
Juliana Macedo: “Recebi todo apoio da minha família para que eu pudesse tomar esta decisão. Gostaria de incentivar mais cachoeirenses a estudarem conosco”
Ao longo do tempo, inúmeros conterrâneos foram em busca de oportunidades de estudo e de trabalho não disponíveis na cidade. Mas essa realidade vem mudando. Com a instalação e a consolidação de instituições de ensino superior, o município se firma como polo de educação no estado e se encaminha para a transformação social, cultural e econômica, atraindo a diversidade e a pluralidade de pessoas dos quatro cantos do Brasil e do mundo. Seis estudantes relatam suas impressões e experiências morando em Cachoeira do Sul.
NORDESTINA NOS PAMPAS
Vinda de São Luís, capital do Maranhão, JULIANA AGUIAR MACEDO, 23, é técnica em mecânica e estudante de graduação em Engenharia de Transportes e Logística na UFSM. No último semestre, a jovem esteve envolvida em um projeto de desenvolvimento e aprimoramento do transporte urbano de Cachoeira do Sul. “Existem muitos trabalhos que o curso tem realizado junto ao laboratório de mobilidade e logística (Lamot) para benefício da cidade. Isso nos alegra bastante como acadêmicos, pois nos oferece resultados palpáveis”, conta ela, que não desconsidera a possibilidade de fixar moradia caso encontre oportunidade de trabalho.
FASE DE ADAPTAÇÃO – Conforme Juliana, a maior dificuldade nesta fase de adaptação é se adequar ao clima, à cultura e às características da Região Sul, que, por sua vez, são bem diferentes do Nordeste. “É surpreendente a diferença cultural que temos dentro do Brasil, isso realmente traz um choque para quem vive a experiência que estou vivendo”.
“A diferença já começa pelo vocabulário, e a este eu aderi facilmente. A culinária é menos temperada. Uma vez levei chimarrão para o Maranhão e essa ideia não agradou muito as pessoas por lá. Eu, porém, reconheço o valor de um bom mate no inverno”, diz a estudante, que também nota diferença no comportamento social: “É necessário tempo para conquistar a confiança gaúcha, e aqui existe muita cerimônia nas relações. O nordestino é mais alegre e festivo, mas eu me agrado da porção de alegria do gaúcho, é suficiente”, comenta.
“Através da pesquisa e aplicação, sempre busco formas de melhorar a cidade”. Jonathan Barros
PAULISTA NO SUL
Natural de Itapecerica da Serra, Região Metropolitana de São Paulo, JONATHAN BARROS FELIPE VIEIRA, 23, é estudante de Engenharia de Transportes e Logística na UFSM. “Resolvi vir para Cachoeira por causa da vaga que consegui através do Sisu (bolsa de estudo). Minha família sempre me apoiou, desde a matrícula até hoje”, conta ele, que reside aqui há quase três anos. Integrante do laboratório de mobilidade e logística, Jonathan se dedica a investigar as potencialidades dos modais de transporte para a movimentação de cargas visando a melhoria da infraestrutura da cidade e qualidade de vida da população.
DIFERENÇAS – Ainda se adaptando à calmaria da cidade, Jonathan diz enfrentar certa dificuldade ao se habituar às diferenças do interior com a agitada São Paulo. “Uma das maiores dificuldades foi me enturmar com as pessoas locais. Tenho bons amigos em Cachoeira, mas meu círculo de amizades é em grande parte formado por pessoas de fora da cidade e do estado. Na minha percepção, são pessoas que não são muito abertas a diálogo com gente de fora e seu círculo de amigos parece se restringir a quem já conhecem há tempo”, pontua.
“Cachoeira é muito rica em arquitetura. E na área de transportes, é uma das poucas cidades do estado que tem muita potencialidade, mas precisa saber adaptar a sua infraestrutura aos novos tempos que estão chegando. Como pretendo me especializar na área da logística dos portos, se os órgãos públicos ou a iniciativa privada se mostrarem ativos nessa área, eu poderia ficar na cidade, caso contrário, meu foco será Rio Grande ou outra cidade portuária”, fala.
“Recebi total apoio da família para a mudança. Pretendo dar seguimento nos estudos na área acadêmica”. Alessandro Castilho
DA FRONTEIRA
De Dom Pedrito, na Fronteira Oeste, ALESSANDRO MAIA CASTILHO, 26, é acadêmico de Administração na Uergs e servidor público na UFSM. É atuante na Feira da Agricultura Familiar, projeto de extensão da Uergs, e desenvolve pesquisa acadêmica no ramo da administração pública nessa instituição com foco na elaboração de políticas públicas e serviços essenciais à população. “O papel da universidade é, sobretudo, propiciar o desenvolvimento da comunidade em que ela está inserida”, salienta.
ENCRENCA – Conforme Alessandro, é inegável a transformação que vem ocorrendo no município com a instalação de universidades, contudo, no que diz respeito à questão cultural: “Não há muita diferença com a região da fronteira, mas a ‘encrenca’ (iguaria típica cachoeirense) é algo que nunca tinha ouvido falar”, diz aos risos.
Thiago de Freitas: “Busco aprender para contribuir com a comunidade de Cachoeira, me engajando na luta pelo crescimento da região”
DA REGIÃO
Quando surgiu a oportunidade de estudar Agronomia na Uergs, THIAGO RODRIGUES DE FREITAS, 26, não pensou duas vezes ao deixar o emprego de três anos em Caçapava do Sul, sua cidade natal, para fixar moradia em Cachoeira. Tecnólogo em gestão ambiental e com especialização em gestão e desenvolvimento rural, Thiago desenvolveu como bolsista um projeto sobre agricultura familiar e segurança alimentar nas escolas do município em 2018. “Este projeto atingiu quase 500 alunos das escolas públicas do meio urbano e rural”, conta ele, que pretende ingressar em um mestrado na área de desenvolvimento rural no futuro.
PROBLEMAS SOCIAIS – “Venho de um município com enormes problemas, mas as pessoas têm um grande orgulho em falar da cidade, de certa forma um bairrismo. A recepção é muito boa, mas em Cachoeira existe uma descrença em relação ao futuro do município”, observa Thiago, que enfoca a realidade latente da pobreza e da miséria no país: “O sentido para a vida está em contribuir para reverter este quadro doentio. A educação atua nesse sentido”.
Sandy Shan: “Estou empolgada para conhecer a Amazônia”
INTERCAMBISTAS ASIÁTICOS
Do outro lado do mundo, dois jovens embarcaram em um intercâmbio promovido pelo Rotary Club Internacional para conhecer o Brasil. Residindo em Cachoeira do Sul desde agosto do ano passado, Sandy Wan Shan, 16, é oriunda do distrito de Taitung e Wei Chi, 18, do distrito de Kaohsiung, em Taiwan, ilha situada próximo à costa chinesa, na Ásia. Ambos estão alojados em residências de famílias rotarianas, frequentam aulas de Língua Portuguesa e cursam o terceiro ano do ensino médio nos colégios Barão do Rio Branco e Marista Roque, respectivamente.
Neste mês, os intercambistas seguem viagem para visitar Manaus, no Amazonas, e contemplar a Floresta Amazônica após já terem conhecido o litoral do Nordeste, em Natal (Rio Grande do Norte) e Salvador (Bahia), além do Sudeste, em Vitória (Espírito Santo) e São Paulo (SP). Eles também já atravessaram a fronteira no Uruguai. “O Brasil é realmente grande”, concordam. Em junho, os estudantes voltarão para o seu país de origem com o término do intercâmbio.
BRASIL X TAIWAN – Para Sandy e Wei, todas essas descobertas são surpreendentes. “Os brasileiros são afetuosos, têm mais contato físico nas relações, se cumprimentam com beijos e abraços. Lá é só aperto de mão”, contam eles, que arriscam algumas frases em português. Sandy aprecia eventos festivos e culturais como o Carnaval e Wei, as baladas. “Achávamos que a cidade fosse mais perigosa por termos a referência do Rio de Janeiro”, contam.
Acostumados com pratos à base de carne de peixe, massas e legumes, os estudantes taiwaneses apreciam o churrasco, carreteiro e chimarrão e já se aventuram nas panelas. “A comida lá é mais diversificada. Aqui segue um padrão, como o arroz e feijão, que, por sua vez, é diferente do feijão de lá, adocicado e servido como sobremesa gelada no verão”, dizem.
Wei Chi participou de projeto de Biologia do Roque em Porto Belo, Santa Catarina
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