Portas que se abrem facilmente, pequenas rampas de acesso, pisos antiderrapantes, armários com iluminação interna, interruptores de fácil localização, móveis sem quinas, grades de proteção nas janelas, protetores de tomadas. Detalhes como estes fazem parte do check-up de uma casa, elaborado por médicos e arquitetos, para aumentar a segurança para crianças e idosos. O projeto da casa segura faz parte da campanha de quatro entidades médicas: as sociedades brasileiras de Pediatria, Ortopedia e Traumatologia, Reumatologia e Geriatria.
De acordo com a arquiteta Yêda Maria Leite, ao pesquisar um imóvel para morar, uma família com idosos ou crianças deve estar atenta não só às condições que assegurem conforto (boa iluminação natural, ventilação, ausência de umidade etc.) mas, especialmente, aos itens que garantam segurança no desempenho das atividades do dia-a-dia.
Entre os primeiros ajustes estão manter ambientes iluminados durante a noite, colocar piso antiderrapante nos cômodos e desfazer-se dos tapetes. A adaptação dos detalhes começa na retirada de maçanetas arredondadas, que exigem muito esforço ao idoso. Evitar escadinhas e pequenos degraus é importante. Com o passar dos anos, o idoso vai perdendo noção de espaço e o risco de cair é maior.
Maria Júlia Soares da Silva, 79 anos, já caiu e fraturou o fêmur esquerdo quando caminhava dentro de casa, do quarto para o banheiro.
"Eu ando me agarrando nas paredes, pois não tenho mais forças nas pernas. Sempre chamo alguém para me ajudar, mas dessa vez era de madrugada e não queria acordar ninguém. Perdi o equilíbrio, caí e fraturei o osso da coxa esquerda".
As portas também devem ter abertura maior ou igual a 80 centímetros. Além disso, devem ser de correr, ou se de giro, abrir para o lado de fora do ambiente, assegurando o acesso de outra pessoa em caso de queda. "Esta observação vale, especialmente, para o banheiro. Nesse espaço, o ideal é usar cortinas no lugar de boxes", alerta a arquiteta.
De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, anualmente, oito mil crianças morrem e outras 50 mil sobrevivem com incapacidade física permanente em decorrência de acidentes domésticos.
Esses dados são preocupantes. Choques, queimaduras, quedas e intoxicações estão entre os procedimentos mais freqüentes nos prontos-socorros pediátricos. Um pouco de atenção é suficiente para evitar cerca de 90% desses casos. Os pais não podem ter visão fatalista do acidente doméstico, mas devem investir na prevenção.
A fase de maior risco da criança é quando começa a engatinhar e pegar objetos. Por não ter noção de perigo, se expõem às mais diversas situações, como colocar tudo o que pegam na boca, descer sozinhos do sofá ou da escada e puxar a toalha da mesa. A cozinha é um ambiente bem perigoso, pois tem fogo, gás, facas e produtos de limpeza.
Prevenção: tomadas com proteção para evitar choques
Pequenos detalhes podem evitar cerca de 90% dos acidentes domésticos com crianças e idosos.
Para Elisa Maria Barbosa, mãe de Elena, dois anos, o uso de protetores isolantes nas tomadas é essencial. "Não quero ver a minha filha levando choque. Para manter a saúde da família toda é melhor prevenir certos acidentes, pois remediar sempre é pior", diz.
Segundo o artigo dos doutores Alberto Olavo Advincula Reis, da Universidade de São Paulo (USP) e Maria Aparecida Andrés Ribeiro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), deve-se ter atenção redobrada com choques, engasgos e obstruções provocadas por comidas e objetos que a criança coloca na boca, como moedas e balas, por exemplo. Já para idosos, que perdem a musculatura e, freqüentemente, se engasgam ao engolir comidas secas e/ou em pedaços maiores, deve-se ser administrada dieta apropriada, com alimentos picados em pedaços menores e mais pastosos.
Medidas simples podem ser tomadas para garantir maior segurança. Janelas devem ser protegidas com telas e grades, piscinas devem ter redes, é preciso cuidado com escadas e lajes, tomadas e fiação elétrica não devem ficar expostas, remédios, produtos de limpeza e material inflamável devem ficar escondidos. Seguindo essas recomendações é possível proteger a família e evitar que qualquer mal aconteça.
Importante:
Segurança em primeiro lugar
A comerciária Marlete Santos Nunes, mãe do pequeno Pedro Henrique Nunes Silveira, de dois anos, segue à risca todas estas orientações para manter a casa segura para seu filho. Além de grades nas janelas mais altas da casa, ela colocou protetores em todas as tomadas do imóvel.
"Já vi o Pedro várias vezes querendo colocar brinquedos e objetos nas tomadas e fiquei com medo que uma hora que não tivesse ninguém por perto ele acabasse levando um choque", revela.
Para prevenir os acidentes, Marlete também afastou móveis com quinas e mesas com vidro. "Estes pequenos cuidados fazem a diferença. Claro que não vão evitar totalmente que ele venha a se machucar, mas podem evitar transtornos desnecessários", comentou Marlete.