Além da sala de aula
Histórias de amor entre professores e alunos que terminaram em casamento
Presenciar alunos dentro da escola de mãos dadas ou trocando carinhos é uma cena que de tão comum não chama a atenção de mais ninguém. Então, até aí nenhuma novidade. A surpresa vem quando as mãos que se entrelaçam com as do aluno são as mesmas que manejam o giz em sala de aula, assunto tratado muitas vezes com preconceito pela sociedade.
Quem já viveu ou vive uma história de amor em que um é o mestre e outro é aluno sabe que lidar com a situação não é tarefa fácil. Em geral, o pivô das discussões continua sendo a ética, colocada em xeque por aqueles que observam de fora o relacionamento amoroso. Obstáculos surgem sempre, mas quando o amor é verdadeiro, eles são superados e o romance sai da escola e sobe o altar.
Apesar de todos os riscos, medos e tabus, não é difícil encontrar aqueles que apostaram na relação com seus alunos. Na década de 60, então com 28 anos, o professor Édison Affonso Beckenkamp aventurou-se em um relacionamento com sua aluna Cled, de apenas 16 anos. O romance deu tão certo que acabou em casamento. Hoje, com 70 anos e a esposa com 58 anos, ele diz ter muito orgulho da história de amor, construída em cima de muito carinho e, sobretudo, respeito.
"Fiquei sabendo do interesse dele através de uma colega mais velha. Lembro que fiquei com muito receito, tinha medo do que pudesse vir a sofrer já que na época uma situação dessas era completamente inusitada”, conta Cled, que hoje também se dedica à profissão de professora. Depois da primeira conversa, o casal demorou cerca de seis meses até começar a namorar.
Com a direção do Colégio Imaculada Conceição, palco da história, eles não encontraram problemas. A situação foi mais difícil com as colegas, que não aceitavam o namoro. Na época, o Imaculada era um colégio exclusivo para meninas. Apesar dos obstáculos, Édison e Cled apostaram no amor e o casamento aconteceu após cinco anos e meio de namoro. No dia 26 de dezembro, eles comemoraram 37 anos de união, ao lado das filhas Letícia, 34, Paula, 30, e Márcia, 27, e também ao lado dos dois netos: Eduardo, 1 ano, e Luísa, 7 meses.
A sala de aula também foi o palco para o início do romance do professor de Física Vladimir Emílio Mohr, 36, e a esposa Deise Leal Mohr, 22, que quando entrou no ensino médio, na Escola Borges de Medeiros, não imaginava que seu futuro marido estava tão próximo. Durante todo o primeiro ano ela teve aulas com Vladimir, mas somente no final das aulas é que surgiu o interesse, primeiro da parte dele. “Quando já estava terminando o ano letivo eu cortei o cabelo e ele elogiou. Depois disso entramos em férias e começamos a nos falar diariamente por telefone. Somente depois de um ano assumimos oficialmente o namoro”, conta Deise.
Vladimir e Deise: história de amor que iniciou entre uma fórmula de Física e outra já rendeu frutos, o pequeno David
Todo o relacionamento foi baseado na discrição, tanto que no terceiro ano ela preferiu trocar de turma para não ter mais o namorado como professor e assim evitar incômodos com os colegas e com a direção da escola. “Não enfrentamos problemas por sermos professor e aluna nem com a escola e nem com os familiares. Tudo foi muito natural e todos aceitaram o relacionamento numa boa”, lembra Vladimir. A diferença de idade também nunca foi empecilho para o sucesso do namoro. Em abril de 2004, eles oficializaram a união. Hoje, são uma família feliz, ao lado do primeiro fruto do amor, o pequeno Davi, de sete meses.
A maioria que decide levar o romance que iniciou entre uma lição e outra acaba casando e constituindo família. Alguns desses casamentos duram anos e geram frutos, entre filhos, netos e até bisnetos. Foi o que aconteceu com o casal Guaraci de Moraes, 82, e Romilda Ramos, 78, que entre namoro e casamento já somam mais de 60 anos de união. Ela era professora de Guaraci, que foi alfabetizado aos 20 anos porque antes disso morava no interior da cidade e não tinha acesso à escola. Entre uma palavra e outra ensinada, os dois trocavam olhares e deixavam transparecer o interesse em começar a namorar. Depois que a turma se formou, ele continuou procurando a professora, que aceitou seu pedido de casamento seis meses após o namoro iniciar. “Uma das histórias que mais gosto de contar é que para ficar mais tempo perto dela fingia que não entendia nada do assunto e pedia para repassar cada lição”, conta. O casamento rendeu ao casal quatro filhas, 10 netos e quatro bisnetos. A relação deles mostra que nem sempre é o mestre que se apaixona pela aluna, em muitos casos a história se inverte: é a professora que se interessa pelo seu pupilo.
Édison e Cled: história de amor que iniciou na sala de aula já dura, entre namoro, noivado e casamento, mais de 42 anos
Guaraci e Romilda: história invertida mostra que a professora também pode se encantar pelo aluno, e não como na maioria dos casos em que é o professor que se apaixona pela aluna
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