Escolhido de Deus
Depois dos 30 anos de idade, Fernando Bolfe desiste da profissão para ser padre. Propósito é celebrar a união
Do terno e gravata à batina, do vade-mécum à Bíblia, das leis humanas às leis divinas. Esse paradoxo descreve a história do sobradinhense Fernando Luiz Bolfe, 38, que trocou a carreira de advogado para seguir a sua vocação: ser padre. Bacharel em Direito pela Unisc e em Teologia pela Fapas e mestrando neste curso pela PUCRS, Fernando reside na cidade há um ano e três meses, quando tornou-se sacerdote. Mas, segundo ele, este chamado ministerial esteve presente desde a infância, recebendo o incentivo da família. No ano de 1995 Fernando ingressou no Seminário Menor Monsenhor Armando Teixeira, da Diocese de Cachoeira do Sul, estudando para ser padre na Igreja Católica. Devido às dúvidas e incertezas desta escolha, decidiu sair do seminário oito anos após e retornar para casa, junto da mãe Jacinta, 69, do pai David, 71, ambos aposentados, e da irmã Andiara Maria Bolfe Zuchetto, 47, agente de saúde. A partir daí sua vida tomou rumos diferentes.
De advogado a padre: “Minha missão não é separar as pessoas, mas proporcionar a união, a comunhão de vidas para o bem de toda a família”, diz Fernando Bolfe
INTERPRETANDO SINAIS
Conforme Fernando, um dos sinais fortes de que Deus estaria lhe chamando para ser padre aconteceu no escritório de advocacia em 2012. Diante de um pedido de pensão alimentícia por parte de uma mãe com dois filhos menores, ele convocou o pai para que pudessem conversar sobre os valores e o futuro das crianças. No entanto, ao invés de partir para a separação do casal, ele fez o inverso, unindo a família.
“Em quase duas horas de diálogo tentava conscientizar os pais de que a vida dos filhos estaria nas suas mãos e que uma família desestruturada só traria infelicidade para todos”, lembra. Esta família saiu do escritório e não mais retornou para encaminhar a separação judicial e a devida pensão alimentícia. “Mais tarde fiquei sabendo que haviam decidido dar mais uma chance um ao outro e cuidarem dos seus filhos”, conta ele, que abençoou o primeiro matrimônio no dia 14 de abril.
REVIRAVOLTAS DA VIDA
Em sua terra natal, atuou como instrutor de trânsito por dois anos e radialista por oito. Em 2011 concluiu o curso de Direito e em 2012 passou na prova da OAB, iniciando na advocacia. Contudo, o tempo passou e, apesar das experiências profissionais e também afetivas, o sonho de ser padre permanecia. Aparentemente a sua vida estava bem encaminhada: possuía emprego fixo, havia adquirido estabilidade financeira e estava noivo e com pretensão de casar – viver a experiência, como a maioria das pessoas faz no seu cotidiano, descreve ele. Interiormente, porém, havia uma interrogação: “Por que não ser padre?”. Assim, começou a maior reviravolta de sua vida. Para o espanto de todos, compartilhou a ideia com a sua família e em seguida pediu demissão do trabalho como radialista e renunciou de continuar advogando.
A parte mais complicada desse processo, entretanto, era partilhar o desejo de retomar a vida religiosa com a cônjuge à época e se desfazer da relação que já matinha há cinco anos. “Por mais que fosse difícil, incrivelmente, ela foi muito compreensiva, e apesar do sofrimento da perda de alguém que ela amava, soube desprender-se para poder me ver feliz”, relata. Com o auxílio de sacerdotes, Fernando recebeu o acompanhamento e a orientação necessária para voltar aos estudos e tornar-se padre. Desta vez a certeza falava mais alto.
CAMINHO DA FÉ
Dedicando-se integralmente à função de padre na paróquia da Catedral Nossa Senhora da Conceição, Fernando comenta que o trabalho realizado é intenso, mas garante sentir-se realizado com este encargo. “Posso chegar nas pessoas com problemas antes que tenham de ir à Justiça buscar seus direitos e para resolver seus conflitos, que, apesar da decisão do juiz, não têm um fim internamente. Muitas sentenças não são capazes de devolver a paz ao coração e à vida das pessoas diante de muitos litígios”, entende.
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