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Reportagens Edição 113 - maio de 2017

Força e talento nos palcos


Ator cadeirante supera limitações e ganha destaque no país

O que poderia ser o fim, na verdade era só um novo começo. A história de superação do ator cachoeirense Luciano Mallmann, 45, começa quando ele sofre uma lesão na medula ao cair durante uma acrobacia aérea em tecido no Rio de Janeiro, em 2004. Publicitário de formação e residindo em Porto Alegre, Luciano se define como ator “desde que se conhece por gente”, no entanto, logo depois do acidente decidiu que não queria mais atuar. “Antes eu era ator com todas as possibilidades, depois me recusava a fazer qualquer coisa com a limitação de estar na cadeira de rodas”, desabafa. Mas esta decisão não durou muito tempo e sua carreira não termina aí, dividindo-a com a atividade de publicitário freelancer.

FOTO: FERNANDA CHEMALE

 

 

Mallmann em cena com a peça “Ícaro”. “Fui atrás do que queria, fui empreendedor. Acreditei, me foquei e fiz acontecer. E acho que todo mundo pode fazer isso, temos uma força que nem imaginamos que temos”, diz



ÍCARO

Em março deste ano Mallmann apresentou a peça “Ícaro” no Teatro do Instituto Goethe, em Porto Alegre, e vai voltar em nova temporada nos dias 19, 20, 25, 26 e 27 de maio no Instituto Ling. O monólogo, dirigido por Liane Venturella, foi criado e interpretado pelo próprio ator, que marcou a sua estreia como dramaturgo. Em cena, Mallmann narrou depoimentos ficcionais de cadeirantes e discutiu temas como família, preconceito e relações amorosas. O espetáculo teve sessões especiais para pessoas com deficiência e buscou inspiração nas próprias experiências do autor e de pessoas que conheceu depois que se tornou paraplégico.


PRODUÇÃO PREMIADA

Conforme Mallmann, a profissão de ator é instável e muitas vezes o profissional depende de passar em um teste ou ser chamado para um trabalho. “E no meu caso, por usar cadeira de rodas, sabia que a melhor opção a ser feita era eu produzir alguma coisa”, conta. E assim ele atuou e produziu a peça “A mulher sem pecado”, de Nelson Rodrigues, em 2011. Pela montagem, levou o Prêmio Açorianos de Melhor Produção e o Prêmio RBS de Melhor Espetáculo Eleito pelo Júri Popular.


NA TELA DA GLOBO


Se você assistiu à novela “Viver a vida” (TV Globo, 2009/2010) e prestou atenção em todos os capítulos deve ter percebido a participação de Mallmann. O ator dividiu a cena com a tetraplégica Luciana, vivida por Alinne Moraes. Essa foi a oportunidade de voltar a atuar pela primeira vez depois do acidente. “Mesmo tendo sido uma participação de um dia apenas, senti de novo o gostinho de ser ator e a partir daí a vontade de fazer algum trabalho foi crescendo e acabou se tornando uma necessidade”, fala.


AGENDA
É chegada a vez de Cachoeira prestigiar a peça Ícaro. No dia 30 de junho, Luciano Mallmann fará apresentação na Sociedade Rio Branco (SRB), às 20 horas. O evento faz parte da programação de aniversário do Jornal do Povo, que completa 88 anos no próximo mês. O valor do ingresso para sócios em dia é R$ 20 (antecipado) e R$ 25 na hora. Não sócios podem garantir seu ingresso a R$ 40 (antecipado) e R$ 50 na hora. À venda na recepção da SRB.



RAIO X

. Como publicitário, Luciano Mallmann já passou por várias agências, como a E21, Escala, Eugênio e DM9 Sul, onde fez parte da equipe que produziu a campanha do projeto social da Fundação Pão dos Pobres, em 2014. “Produzimos vários trabalhos lindos, que foram premiados não só no Brasil como lá fora”, orgulha-se.

. No teatro, Mallmann começou trabalhando com o diretor Zé Adão Barbosa atuando em peças como “A gata borralheira” (1991), “O despertar da primavera” (1993) e “Love hurts” (1996), em Porto Alegre.

. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1996 – cidade onde morou durante oito anos –, quando participou da Oficina de Atores da Rede Globo e dos espetáculos “A dama do cerrado”, de Mauro Rasi, em que contracenou com atores como Suzana Vieira, Otávio Augusto e Beatriz Lira, e “Os duelistas”, com direção de Jorge Fernando. Também participou da novela “Mandacaru”, exibida pela extinta TV Manchete.




“Esta identificação acaba fazendo com que o olhar sobre as pessoas com deficiência se transforme. Antes da cadeira de rodas ou qualquer outra deficiência, existe uma pessoa ali. Uma pessoa que se relaciona, que ri, que chora, que tem seus altos e baixos como qualquer outra”, ressalta ele.




3 PERGUNTAS PARA LUCIANO MALLMANN

1) O FATO DE SER CADEIRANTE INFLUENCIOU NA CONTRATAÇÃO DE NOVOS TRABALHOS?

“Nunca influenciou nas decisões de me contratarem, e também tive sorte porque todas as agências que trabalhei tinham acessibilidade para cadeirantes. Mas tenho consciência que nem todos os lugares têm acesso. Muitas vezes deixei de participar de reuniões em clientes e de encaminhar meu currículo para lugares que eu sabia que não tinham acesso”.

2) ONDE VOCÊ ENCONTROU FORÇA PARA SUPERAR AS DIFICULDADES E LIMITAÇÕES?

“Sempre acreditei que a pessoa possui uma essência e que ela é imutável independentemente do que aconteça em sua vida. Eu nunca tive tendência a ser uma pessoa depressiva, e assim me mantenho até hoje. Além disso, o ser humano possui uma força e um poder de adaptação que nem imagina. Se um dia alguém chegasse pra mim e dissesse que eu iria ficar de cadeira de rodas, jamais imaginaria que eu lidaria com isso da forma que lido. E hoje, digo com toda a sinceridade do mundo que ser cadeirante me deu sorte. Se não estivesse de cadeira de rodas não teria produzido e atuado em ‘Ícaro’, que é o maior e mais importante trabalho de minha vida”.

3) COMO VOCÊ VÊ A LEI DE ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO NO BRASIL? AINDA HÁ MUITO PARA MUDAR?

“Acredito que a legislação brasileira, se formos analisar, assegura os direitos das pessoas com deficiência em diversas áreas: educação, saúde, ensino, esportes, entretenimento, acessibilidade em locais públicos, etc. O que acontece é que muitas vezes essas leis não são cumpridas. De nada vale uma legislação completa se não houver uma transformação na maneira de como a deficiência é vista. E não falo só de não estacionar em lugares reservados para cadeirantes, construir rampas e lugares acessíveis. Isso é o básico. Espero que um dia seja natural encontrar pessoas com deficiência em todos os lugares exercendo plenamente seus direitos como cidadãos e que isso não seja nenhuma surpresa ou estranhamento”.




FIQUE DE OLHO

Mallmann está no elenco de “Bio”, longa-metragem de Carlos Gerbase que está em fase de finalização e será lançado ainda este ano. Completam o elenco do filme nomes como Maitê Proença, Maria Fernanda Cândido, Tainá Müller, Sheron Menezes e Bruno Torres.
 






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