Pequenos compradores
Cada vez mais cedo as crianças aprendem a consumir. A dúvida é como transformá-los em consumidores responsáveis
Ao perguntar a uma criança o que ela quer fazer em seu passeio, a resposta esperada é brincar, mas freqüentemente ela tem dado lugar a resposta comprar. Isso reflete uma nova realidade da infância. Desde cedo educadas a comprar, comprar e comprar, os pequenos não sabem nada sobre poupança, investimentos e crédito. Quando ficarem adultos, a chance de se tornarem endividados é grande.
Inara com Maria Luiza e Mariana: aula de educação financeira também no mercado
Cada vez mais voltado para suas carreiras profissionais, o casal costuma satisfazer o desejo dos filhos com presentes como forma de suprir sua ausência. A base para formar futuros consumidores responsáveis se dá justamente neste diálogo tão em falta. O que se vê é um ciclo vicioso: a criança pede, o pai obedece. O mercado contribuiu para isso depois que descobriu o poder de compra das crianças e implementou uma operação com o objetivo de otimizar o desejo de consumo delas. Nas filas dos caixas, corredores de batatas fritas, pequenos brinquedos, jogos, revistas de colorir. A criança, por instinto, não tem como resistir.
Esse novo comportamento fez com que especialistas e pais começassem a se preocupar nos últimos anos com a educação financeira dos pequenos. Para ter sucesso nessa empreitada de ensinar seu filho a gastar de forma consciente, o segredo é começar cedo, mas se isso não foi possível, nunca é tarde para corrigir crianças e adolescentes que pensam que o dinheiro nasce em árvore. De acordo com especialistas no assunto, a relação dos pais com as finanças influencia muito os filhos. Filhos de pais endividados não têm uma relação equilibrada com o dinheiro e, provavelmente, também se tornarão adultos endividados.
A gerente administrativa Inara Teixeira, 41, mãe da Maria Luiza, 10, e da pequena Mariana, 5, se mostra preocupada com o entendimento adquirido sobre dinheiro das filhas. “A mídia incentiva muito o consumo, então tento mostrar que nem sempre podemos comprar algo quando vamos ao supermercado. Procuro levar elas sempre quando vou fazer compras para mostrar a importância de pesquisar preços e que itens como brinquedos só podem ser levados para casa depois que a compra for planejada”, observa Inara.
FIQUE DE OLHO
Em Piraquara, cidade de 100 mil habitantes na região metropolitana de Curitiba, um projeto social ensina crianças a poupar. Elas freqüentam um local chamado Vila das Finanças, onde usam dinheiro de mentira que só pode ser utilizado na Vila. A iniciativa engloba também alunos carentes da região, que representa quase metade da população da cidade. A cidade-miniatura que foi construída pela empresa de pneus paranaense BS Colway já atrai outros parceiros. O Bradesco abriu conta corrente para todas as crianças, que receberão cartões magnéticos ainda este ano.
Em Los Angeles, nos Estados Unidos, outra estratégia faz sucesso. Uma empresa chamada It’s A Habit (É Um Hábito!) foi criada com o intuito de ensinar finanças a crianças. O foco está dirigido também às famílias. O personagem Sammy, um coelho com hábito de poupar, foi criado especialmente para o projeto. Com base nele, já foram lançados vários livros, CDs e guias para orientação dos pais e professores e vários outros produtos.
As fases da educação financeira
Até 2 anos
Ao passear pelo supermercado, por exemplo, mostre a existência de coisas caras e baratas. Diga: será que isso é caro ou barato? Logo a criança vai começar a se fazer essa pergunta também
A partir dos 3 anos
Comece a incluí-la no planejamento familiar. Uma boa oportunidade é na hora de fazer as contas das despesas do mês. Mostrar como ganha o dinheiro levando os pequenos para conhecer seu trabalho também é uma boa oportunidade de desenvolver noções de economia neles.
A partir dos 7 anos
Comece a dar uma pequena quantia em dinheiro por semana. A quantia deve ser baixa. Isso vai ensinar a criança que o dinheiro acaba se ele gastar tudo de uma só vez.
Na adolescência
Esse é o momento dos pais ficarem atentos para saberem qual o destino que a mesada está tendo. Ele não pode querer mais dinheiro antes do fim do mês. Se isso acontecer, peça para fazer serviços que teriam que ser pagos por você, como lavar o carro, para ele ganhar dinheiro.
Na faculdade
É hora de ele trabalhar e ganhar seu dinheiro. Incentive a fazer estágios e pequenos trabalhos para ajudar nos gastos do curso.
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