Animais que mudam vidas
Terapia com cavalos promove qualidade de vida e cães no asilo entretêm idosos
Se você tem ou teve um animal de estimação sabe o divertimento e o carinho que eles oferecem. Mas você sabia que os animais têm o poder de mudar vidas? Em Cachoeira do Sul, o Centro de Equoterapia General Polidoro, coordenado pelo tenente Moisés Bragamonte, 51, tendo 29 anos de Exército e 16 de experiência em equoterapia, ajuda pessoas com deficiências ou necessidades especiais. As sessões semanais têm duração de 30 a 45 minutos, propiciando aos praticantes mais de 1,2 mil estímulos com o cavalo em movimento, o que desenvolve o equilíbrio, normaliza o tônus muscular e estimula a circulação sanguínea, entre outros benefícios. Segundo Bragamonte, a criança muda a percepção e vê o mundo de outra forma quando está montada no cavalo.
Segundo o tenente Bragamonte, o cavalo, em par de igualdade ao praticante, estimula a autoconfiança e a autoestima
O CAVALO COMO FORTE ALIADO
A professora de equoterapia Ana Paula Dias, 34, com 11 anos de atuação como profissional de Educação Física, afirma que muitas crianças se tornaram mais independentes, seguras e melhoraram o desempenho escolar, a autoestima, a coordenação motora e o convívio social e familiar com as aulas de equoterapia. “Elas chegavam com medo, receosas ao toque, sentiam-se inseguras, diminuídas por suas incapacidades. Agora já saem da terapia com a sensação de leveza por dominarem algo muito maior que elas, tendo outra visão de mundo e ambiente”, conta.
“O cavalo se torna um amigo fiel, aquele que leva além”, afirma a professora Ana
O QUE É EQUOTERAPIA
A professora Ana Dias explica que a equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo. A terapia com cavalos é indicada para o tratamento de comprometimentos motores e psicossociais, como paralisia cerebral, distúrbios neurológicos, síndrome de Down, autismo e esquizofrenia, e problemas escolares, como distúrbio de atenção e hiperatividade. Segundo ela, o movimento tridimensional do cavalo melhora o controle postural, a respiração, reduz espasmos, estimula a propriocepção (capacidade de localização do corpo) e o funcionamento de músculos e ângulos articulares. “Hoje vemos diversos centros espalhados por todo o Brasil utilizando-se desta técnica para modificar vidas”, comprova.
O QUE MUDOU NOS PRATICANTES DA EQUOTERAPIA
- Entre as mães entrevistadas está a de um menino autista de seis anos que diminuiu a medicação, melhorou a concentração na escola, ampliou o vocabulário e sentiu-se mais seguro e motivado com dois anos de prática.
- Uma menina de cinco anos melhorou a tônus, ganhou melhor equilíbrio e tornou-se mais segura em relação aos animais em quatro meses.
- Outra menina, de sete anos, com dificuldade de aprendizagem, melhorou o equilíbrio, a motricidade fina (das mãos e dos dedos), a coordenação motora e tornou-se mais segura e determinada em um ano e quatro meses de prática.
- Segundo uma mãe, as atividades desenvolvidas junto à equoterapia ajudaram também a melhorar a direção e estimulou a memória.
- “O animal é a essência da terapia. Consegue o estímulo e a interação com o paciente de forma surpreendente. Também proporciona amadurecimento e concentração”, conta outra mãe.
Ao lado do soldado e das estagiárias de Fisioterapia, o aluno Caio Moraes de Oliveira, 6, autista, pratica há dois anos a equoterapia. A mãe Luciane Moraes, 39, pedagoga, afirma que o filho se beneficia com a prática e ama a equoterapia
Há dois anos na equoterapia, Victor Barbosa Lopes, 12, portador de síndrome de West (uma forma grave deepilepsia em crianças), ganhou equilíbrio de tronco, segundo a mãe Silene Lopes, 43, dona de casa
MOTIVADOR TERAPÊUTICO
A professora de equoterapia Ludmila Campos, 42, com 20 anos de atuação, coordena o projeto com cerca de 10 estagiários do curso de Fisioterapia da Ulbra, onde atua como professora há 10 anos. “O cavalo funciona como motivador terapêutico desde o contato, as texturas e a sensibilidade. Esses animais têm uma temperatura mais elevada, o que causa efeitos no passo e sensorial”, explica.
A integração entre o aluno e o cavalo é tão grande que o mais difícil para as crianças é se despedir do animal quando a aula acaba
CENTRO EQUOTERÁPICO
Ao todo, o centro equoterápico tem três cavalos, e, segundo os profissionais envolvidos, eles precisam ser calmos, castrados e maduros para serem aceitos e receberem as intervenções durante a sessão. “Para isso trabalha-se primeiro com o animal sozinho para depois utilizar nas sessões”, explica o tenente Bragamonte. Durante as aulas os praticantes são acompanhados de dois estagiários de Fisioterapia e de um soldado. “O soldado precisa primeiro ter contato com o cavalo e ter feito curso de equitação para ter o controle do animal”, esclarece. Bragamonte diz que o equino pode ser de qualquer raça, mas precisa já estar domado, e se evita que seja muito alto para que os profissionais possam segurar o aluno.
Vira-latas são a atração do asilo
O Asilo Nossa Senhora Medianeira tem dois cães que garantem a descontração dos idosos. O vira-lata Lula mora há quatro anos no asilo e acompanha seu dono, o aposentado Danuncio Spader, 79, que reside há oito anos lá, em todas as atividades e passeios diários. Seu Danuncio, conhecido como Lucio, é natural de Encantado, atuou 38 anos como barbeiro e hoje cuida do jardim na companhia do cãozinho Lula.
A assistente social Graziele Lopes, 30, que atua há seis anos no asilo, diz que os cães mudaram a vida dos hóspedes. “Eles são uma atração e fazem parte do lazer dos idosos”, define. O técnico de enfermagem Lucas de Oliveira, 26, trabalha há dois anos no asilo e afirma que os animais brincam e interagem com os vovôs.
CÃO LULA SÓ FALTA FALAR
A técnica de enfermagem Gabriela Brizze presenteou Danuncio com o cão Lula quando ainda era filhote, dando início a essa linda história de amizade. Toda vez que Seu Danuncio chama por ele, o cãozinho vem abanando o rabo e deita-se ao seu lado num banco em frente ao asilo. Treinado pelo dono, Lula pega o boné de sua cabeça e entrega para quem ele pede, tira o papel da bala com as patas, alcança o boné pendurado na árvore e o acompanha no açougue, no mercado e no cemitério. “No mercado, o Lula fica sentado na porta me esperando com o boné. Depois carrega as sacolas para mim”, conta o aposentado. “Ele ganha carne no açougue, mas traz na boca e não come sem a minha autorização”, afirma. Lula é levado a cada 20 dias na veterinária, onde toma banho e recebe as vacinas, mas Seu Danuncio não consegue se separar de Lula nem mesmo durante o atendimento. “Ninguém põe a mão se eu não estiver junto ou deixar minha bengala para que ele veja que estou lá”, diz.
Seu Danuncio tem total confiança no seu cachorro. Torcedor do Grêmio, o aposentado já desfilou com o cãozinho no dia 7 de setembro, ambos vestindo o uniforme do time. Lula é um cachorro dócil, mas para vê-lo bravo basta Seu Danuncio dizer que alguém é do Internacional e ele começa a latir.
O outro cachorro que vive no asilo, o Germano, também de Danuncio, é um vira-lata com oito meses de idade. Por enquanto o filhote fica preso na corrente, pois, segundo a assistente social, ele é muito brincalhão, pega a enxada, pula nas crianças e carrega os calçados das visitas. Ele está sendo adestrado pelo aposentado. Como de costume, Danuncio se inspira em nomes de políticos para batizar seus animais de estimação. O aposentado já teve o cachorro Ghignatti e a gata Dilma, que foram doados.
Seu Danuncio e Lula ganham a cena no asilo com brincadeiras
GABRIEL RODRIGUES
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