Redescobrindo o amor
Romance dá vida nova a quem chega à terceira idade
Seja por uma separação, por ter ficado viúvo ou por nunca ter se casado, encontrar um amor depois dos 50, 60 ou 70 anos de idade é sinônimo de revigorarão e vida nova. Prova disso é a história vivida por Antônio Cardoso, 70, e Terezinha Pavanato, 65. Ele foi casado durante 40 anos, ela por 32. Depois que ficaram viúvos nunca alimentaram a idéia de viver um novo amor, até se conhecerem. Apesar de sempre terem morado em Cachoeira do Sul eles nunca haviam se visto, mesmo os filhos tendo sido colegas de aula na infância.
Terezinha e Antônio: viúvos, eles não planejavam se casar novamente até que se conheceram e decidiram investir no namoro
O encontro aconteceu na Churrascaria Querência, empresa comandada por Terezinha e que ele passou a freqüentar depois da morte da esposa. “Tudo começou com um olhar. Depois ficamos amigos e quando percebi estava apaixonada”, conta ela. O romance já dura oito anos, com direito à bênção religiosa e aprovação geral de todos os familiares. “Minha vida começou de novo depois que encontrei ela”, observa Antônio.
Além de ganhar um novo estímulo para viver, quem encontra um amor na maturidade garante que o relacionamento em nada se compara com os namoros da adolescência e juventude. Maduros e com muitas experiências de vida, esse casais somam companheirismo, amizade e respeito, sem a cobrança tão presente nos relacionamentos do início da vida. O empresário Alfredo Treichel, 76, e sua esposa Marisa Winter, 66, garantem que a maturidade conquistada na terceira idade tira muitos problemas de uma relação, especialmente a insegurança e o ciúme. Ambos viúvos, ele por duas vezes, o casal oficializou a união no último mês de novembro.
Para Marisa, a festa foi muito mais curtida e planejada que no primeiro casamento. “Tudo é melhor, porque nós nos tornamos melhores com o passar do tempo. Sempre tive medo da tristeza que a solidão traz, então casar novamente é muito bom. Alfredo é o marido dos meus sonhos”, revela Marisa. O casal teve um início de namoro tímido, já que os planos de Alfredo não era casar novamente, mas hoje comemora o sucesso da relação com viagens, passeios e muito amor.
Assim como com Alfredo e Marisa, a alegria se vê estampada no rosto da maioria dos casais que decidiram viver o amor depois de passar dos 50 anos. Maduros, em geral eles só firmam compromisso quando têm certeza que encontraram a pessoa certa. Porém nem tudo são flores para alguns casais que decidem iniciar um relacionamento na terceira idade. Em muitos casos, alguns familiares interferem e se posicionam contra o namoro. Quando isso acontece é importante que a família tenha em mente que viver o amor é bom em qualquer idade. Além de melhorar a auto-estima e a auto-imagem, o romance também tem o poder de amenizar a solidão, vivida por quem já enfrentou a perda de amigos e familiares.
Recentemente, a novela Sete Pecados, do autor Walcyr Carrasco, retratou esse dilema vivido pela personagem Juju (Nicete Bruno), que ao se apaixonar por Romeu (Ary Fontoura) enfrentou a reação negativa do filho Teobaldo (Roberto Battaglin) ao relacionamento. A história do casal experiente tem o exagero típico das novelas, mas também mostra o que muitos casais maduros enfrentam quando decidem se entregar ao amor.
Alberto e Laíze: paquera começou na adolescência, mas romance só se concretizou 25 anos depois
Alberto Vieira Lisbôa, 68, e Laíze Hentschke Cunha, 67, sabiam que poderiam se deparar com esse tipo de problema com os filhos dele, mas o medo se desfez ao verem que seu relacionamento foi recebido de braços abertos pelos familiares. Alberto e Laíze se conheceram ainda na infância, mas o interesse só veio na adolescência e somente por parte dela, já que ele era noivo de outra mulher. Durante 25 anos, Alberto foi casado e enquanto isso Laíze vivia alguns relacionamentos, mas nunca oficializou nenhuma união. “Nunca sentei e fiquei esperando por ele, mas no meu inconsciente acredito que não levava nenhum namoro adiante na esperança de um dia ficarmos juntos”, conta.
Depois do divórcio dele, o casal ainda esperou quase um ano para começar a namorar. Mas o relacionamento engrenou e em três meses eles já estavam realizando a bênção religiosa. Hoje, estão casados no civil e comemoram oito anos de união, com o apoio dos familiares e amigos. “Tínhamos medo que nosso namoro não fosse bem recebido, especialmente pelos filhos dele, mas deu tudo certo. Sem esse apoio, com certeza não seríamos completamente felizes, como somos hoje”, conta o casal.
Geração Viagra
Romances vividos na terceira idade se tornam cada mais comuns graças ao aumento da longevidade dos brasileiros, que entre 1980 e 2004 ganharam 9,1 anos, provocando um salto de 62,6 para 71,7 anos na expectativa de vida do país. Outro fator é explicado por uma pesquisa da Universidade de Chicago com mais de 3 mil pessoas que apurou que 73% dos entrevistados com idade entre 57 e 64 anos têm vida sexual ativa. Ou seja, a vovó de coque branco que fica em casa fazendo bolos e relembrando o passado está em extinção. Grupos de convivência da terceira idade se formam para trazer mais qualidade de vida a quem passa dos 60. Não parar e continuar exercitando a vida intelectual, social e sexual garante para quem chegou à maturidade e está sozinho a possibilidade de encontrar um amor, quem sabe até sua alma gêmea.
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