CARATÊ para todos!
Crianças com deficiências físicas e mentais encontram no caratê um forte aliado para o seu desenvolvimento
Entre um golpe e outro de caratê, muito amor e comprometimento para dar. O esporte é para todos, mas nem todos têm esta oportunidade e, principalmente, aquele estímulo fundamental que deve vir de casa. Pensando em difundir os benefícios do caratê no desenvolvimento de pessoas que têm algum tipo de deficiência, os instrutores Paulo Roberto da Silva Machado, 53, e Liege Terezinha da Silva, 50, buscaram especializações para tratar com as diferenças.
Desde 2003, eles ensinam essa arte marcial para crianças com autismo e síndrome de Down em turmas misturadas, estimulando os alunos a se relacionarem com os colegas e a interagirem. “Nosso principal objetivo é a igualdade, independente de raça, cor ou algum tipo de deficiência física ou mental”, ressalta Liege, que tem 28 anos de prática no caratê.
A principal barreira que os professores podem encontrar não é o desenvolvimento dos alunos no tatame e sim, a falta de incentivo que possa vir de casa. “A participação e o envolvimento dos pais é muito importante. Eles têm que acreditar que a criança pode ir muito mais além. Não existem limites para aprendizagem”, observa Liege.
SUPERAÇÃO – JOÃO LOPES FORTES tem o incentivo dos pais desde cedo. Com apenas três anos pratica caratê. O fato de ter síndrome de Down não foi um empecilho para os pais Fábio, 36, e Janaína, 32, lhe matricularem nas aulas. “Sempre estimulamos o João e acreditamos na capacidade dele de fazer as coisas. Quando é dia de ir para aula de caratê ele fica super feliz. Antes ele aceitava tudo fácil, agora começou a impor suas vontades, dizer o que quer, enfim, é um menino que tem personalidade”, orgulha-se a mãe.
O policial civil Fabio da Silva Fortes e a farmacêutica Janaina Jardim Lopes com o filho João. “Colocamos o João no caratê para se socializAar e conviver mais com outras crianças. Notamos uma melhora na coordenação motora dele, na disciplina e formação do caráter. Ele adora colocar o quimono e ir para as aulas”, conta a mãe.
ALÉM DA VISÃO
Difícil imaginar que uma pessoa com deficiência visual possa praticar caratê, mas isso é possível como comprova o estudante Christian Carlos da Silva, 18, que faz aulas há 4 anos. “Antes eu não caminhava sozinho, precisava ter o braço de alguém junto. Hoje eu sou bem mais independente e seguro”, conta o aluno. Para Paulo Machado, que tem 35 anos de prática, o caratê proporciona a formação de um caráter reto e uma personalidade forte, através dos constantes ensinamentos para que se tornem autoconfiantes e equilibrados. “Os alunos portadores de alguma necessidade especial, por praticar em grupo com outros alunos extraem dos próprios colegas e, com atenção redobrada do professor, uma melhora significativa na sua performance pessoal, adquirindo espírito de equipe, autoestima e tornando-se automaticamente inserido no meio onde vive”, explica Paulo.
“Antes do caratê, meu filho não sabia fazer exercícios e nem sabia o que é polichinelo. Hoje ele se vira muito bem sozinho, se soltou e é muito mais independente”, explica a dona de casa Ligia Maria Carlos, 54, que é mãe de Christian.
Quem são Paulo Machado e Liege da Silva?
Paulo é faixa preta 4º Dan (grau) e Liege Faixa preta 1º Dan (grau). Ambos são filiados à FGK (Federação Gaúcha de Karate), CBK (Confederação Brasileira de Karate) e WKF (World Karate Federation).
“Como profissionais da educação, entendemos que um professor para estar apto a ministrar aulas deve ter em mente que precisamos no mínimo ter dez formas de ensinar a mesma coisa, porque nem todos conseguem assimilar por igual. Aprendemos mais com nossos alunos do que eles com a gente”. Paulo
“No caratê as crianças aprendem disciplina, respeito, coordenação motora, autodescobrimento, confiança e independência pessoal. Tudo isso elas levam para o seu dia a dia, para suas casas e escola”. Liege
Como são feitas as graduações de faixas para eles?
“As graduações no caratê para alunos especiais seguem outras regras. A faixa preta de um aluno especial é denominada graduação Suisen Dan. Ela é conseguida quando o aluno tem o tempo de prática necessário para obter a faixa, que é entre cinco e sete anos de treinamento, mas não possui a condição técnica por ser portador de alguma deficiência. Então ele recebe a faixa preta por reconhecimento e esforço”, explica Paulo. As faixas no caratê são: branca, amarela, vermelha, laranja, verde, roxa, marron e preta.
Ser hiperativo não é nenhuma deficiência, mas a prática de caratê ajuda estas crianças também. “Como o caratê requer muito foco, atenção e disciplina, as crianças acabam levando o aprendizado da academia para os seus outros ambientes. Dessa forma, podemos afirmar que os ensinamentos passados durante as aulas, colaboram e muito para a formação da conduta da criança na escola, em casa e em outras atividades sociais em que participa”, explica Paulo Machado.
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