Longe de casa
Acadêmicas que saem de suas cidades para cursar o ensino superior precisam driblar a saudade da família e aprender a se virarem sozinhas
O ingresso em uma universidade é uma etapa muito esperada pela maioria dos jovens, mas essa nova fase da vida pode tornar-se um desafio, principalmente para quem precisa buscar a formação acadêmica longe da família. Prestar vestibular em outras cidades é uma prática comum entre os estudantes que buscam cursos muito concorridos ou que não são oferecidos em seu município de origem. E os números confirmam que é cada vez mais comum esse tipo de situação. Hoje, dos cerca de 2 mil estudantes da Ulbra/Cachoeira, 40% vêm de outras cidades.
Sair da casa dos pais é uma etapa difícil. A saudade da família e dos amigos é considerado pela maioria o maior obstáculo para a adaptação à nova vida. Mesmo quem no início vê na distância dos pais a possibilidade de ter mais liberdade, acaba concordando que na prática a tarefa de se adaptar a um novo lar não é tão fácil assim. Junto com a tão sonhada liberdade, vêm as responsabilidades e a missão de, além de cuidar de si mesmo, manter a casa em ordem, administrar as contas e ainda preparar as próprias refeições.
Sacrifício é válido
Carla: acostumada com a atenção dos pais, ela precisou de uma hora para outra aprender a fazer tudo sozinha, como cozinhar, limpar a casa e ainda administrar a mesada
Para Carla Mello, 20 anos, em nome do futuro profissional vale a pena o sacrifício de ter que aprender a viver sozinha ainda na adolescência. Natural de Bagé, ela saiu da casa dos pais aos 17 anos. Primeiro ela morou em Pelotas, onde tentou a aprovação no vestibular para a Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). Como não obteve sucesso, veio cursar Odontologia na Ulbra/Cachoeira. “Estou há dois anos e seis meses morando sozinha aqui na cidade. No início é tudo muito difícil mas, como não tem outro jeito, é preciso se habituar à nova vida”, observa Carla. “Ter que fazer tudo não me incomoda, o que eu realmente acho ruim é a solidão. Apesar de ter amigos aqui, não há nada como a nossa própria casa e família”, conclui.
Do Pará para Cachoeira
Liene: "Educação precária do norte do país me fez buscar uma qualificação melhor no sul"
Deixar para trás a família e os amigos para ir para outra cidade não é fácil, ainda mais para estudantes como a jovem Liene Liarte Lopes, 22 anos, que precisou mudar de estado em busca da formação acadêmica. Ela veio de Marabá, no Pará, para estudar Direito em Cachoeira do Sul. “A educação na Região Norte é muito precária e sempre ouvi falar da qualidade de ensino das universidades aqui do Sul, então vendo algumas revistas da Ulbra conheci o campus em Cachoeira e decidi vir morar aqui”, conta. Por causa da distância, Liene visita seus pais uma vez por ano. “A pior parte nem é a saudade, mas o frio que faz por aqui. Mesmo morando há quatro anos em Cachoeira ainda não me adaptei a esse inverno tão rigoroso”, observa Liene. Depois que se formar, a estudante pretende fazer uma especialização em Porto Alegre e voltar para a sua cidade natal para exercer a profissão.
Morar sozinho é a opção para quem pode pagar
Fernanda: "Quando a saudade da família aperta, corro para o apartamento das minhas amigas para não ficar sozinha"
Se sair da casa dos pais já é uma tarefa difícil, imagina ter que se adaptar a conviver com pessoas totalmente estranhas. Por isso, e para quem pode arcar com as despesas, a melhor opção é morar sozinho. Foi isso que a bageense Fernanda Medici Saraiva, 19 anos, fez. Estudante do sexto semestre do curso de Fisioterapia, ela garante que vive melhor sozinha do que se tivesse dividindo o apartamento. “No meu prédio moram duas amigas minhas, mas cada uma em seu apartamento. Quando queremos companhia nos encontramos, mas quando queremos ficar sozinhas vai cada uma para o seu canto”, comenta. “Na minha opinião morar longe dos pais tem seu lado bom e também ruim. A parte boa é que aqui tenho um pouco de liberdade, mas o ruim é que essa liberdade veio acompanhada de muita responsabilidade, já que tenho que estudar e cuidar da casa”, conclui Fernanda.
Trabalhar para se manter
Fabíola: "Ter que aprender a conviver na mesma casa com as diferenças e hábitos de pessoas, na maioria das vezes desconhecidas, é um grande desafio"
Cuidar da casa, trabalhar e estudar. Essa é a rotina diária da acadêmica do quarto semestre de Educação Física na Ulbra/Cachoeira, Fabíola Gonçalves, 24 anos. Natural de Horizontina, ela se mudou para Santa Maria aos 17 anos para tentar uma vaga na universidade federal. “Lá morava com minha irmã, então era mais fácil. Nunca tinha pensado em vir morar em Cachoeira até que fui aprovada através do ProUni (Programa Universidade para Todos) para Educação Física e então precisei vir morar sozinha aqui”, conta. Fabíola, que nem conhecia Cachoeira, veio para cá com pouco dinheiro e com a missão de arrumar no mesmo dia um lugar para ficar. Hoje, ela divide uma casa com outras duas meninas e dá aulas de dança para se manter. “É difícil conciliar, mas até agora deu tudo certo. Sinto muita falta dos meus pais, principalmente nos momentos de doença que preciso me virar sozinha até para comprar um remédio ou fazer um chá”, comenta a acadêmica. Para ela, a convivência com pessoas desconhecidas é a pior parte para a adaptação à nova vida.
Amigos fazem o papel da família
Daiana: com os pais morando a cerca de 300 quilômetros de Cachoeira, o apoio dos amigos é fundamental para seguir na luta por um bom futuro profissional
Para Daiana Antonello Marchezan, 21 anos, a dificuldade de morar sozinha só não é maior por causa dos amigos que conquistou desde que veio morar em Cachoeira, há quatro anos. Estudante do sétimo semestre do curso de Biomedicina, ela saiu da casa dos pais em Dom Pedrito aos 16 anos para cursar o terceiro ano do ensino médio em Santa Maria. Após concluir os estudos, prestou vestibular na Ulbra/Cachoeira e decidiu se mudar para cá. “Com certeza é bastante difícil de uma hora para outra ter que passar a fazer coisas que antes os pais faziam, como administrar as contas da casa, mas dá para superar. A pior parte é poder ir para a casa dos meus pais somente uma vez por mês por causa da distância, cerca de 300 quilômetros de Cachoeira”, conta Daiana.
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